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Escrito por: Paulo Souza

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Gênero e geração nem-nem

17 de Março de 2015

Pesquisa OIT: 21,8 milhões dos latino-americanos entre 15 e 24 anos não estudam nem trabalham. Trata-se de 20,3% da população jovem, sendo 70% mulheres

Paulo Souza, secretário de juventude da CNQ

As desigualdades entre homens e mulheres antecedem a luta de classes das sociedades capitalistas atuais, porém o processo de exclusão da população feminina no capitalismo aprofunda o contraste entre os gêneros e gera padrões de discriminação no interior do próprio gênero. Com efeito, ser jovem e mulher torna-se uma condição de subalternidade e exclusão para milhões de brasileiras e latino-americanas.

O relatório Trabalho Decente e Juventude na América Latina: Políticas para Ação, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta números impressionantes e preocupantes para a juventude quanto à exclusão social. Nele se registra que  21,8 milhões dos latino-americanos entre 15 e 24 anos não estudam nem trabalham. Trata-se de 20,3% da população jovem. Deste total, 30% são homens e 70% são mulheres.

No dia 24 de fevereiro de 2015, a Confederação do Ramo Químico da CUT (CNQ) realizou um debate onde o desafio apareceu de forma bastante concreta. Como lhe dar com a juventude nem-nem? E mais ainda como enfrentar as desigualdades de gênero na sociedade e no mundo do trabalho em setores da juventude que não estão representados na estrutura sindical vigente?

O relatório detalha a condição juvenil de exclusão no mundo do trabalho. Aproximadamente 25% desses jovens (5,25 milhões) buscam trabalho, mas não conseguem. Enquanto que 16,5 milhões não trabalham nem buscam emprego, e ainda cerca de 12 milhões dedica-se a afazeres domésticos. Mulheres jovens constituem 92% desse grupo.

Cerca de 4,6 milhões de jovens são considerados pela OIT o “núcleo duro” dos excluídos, pois representa o maior desafio e esse segmento enfrenta o risco de exclusão social, já que não estuda, não trabalha, não procura emprego e tampouco se dedica aos afazeres domésticos.

Os países com maior percentual de jovens nem-nem são Honduras, com 27,5%, Guatemala, com 25,1%, e El Salvador, com 24,2%. Os países com menor percentual são Paraguai, com 16,9%, e Bolívia, com 12,7%. No Brasil, 19% de jovens não trabalham nem estudam.

O relatório da OIT destaca positivamente o fato de que, apesar de as estatísticas laborais não serem alentadoras, a porcentagem de jovens que somente estudam aumentou de 32,9%, em 2005, para 34,5%, em 2011.

Para o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), os direitos ao estudo e ao trabalho são portas de entradas para a juventude brasileira ter acesso aos demais direitos, como participação, cultura, esporte, lazer, meio ambiente, entre outros que estruturam a cidadania juvenil.

Trata-se sem dúvida de um desafio para o sindicalismo cidadão da CUT lutar para que as formas de exclusão que invisibilizam a geração nem-nem sejam suprimidas a partir da ação do Estado voltada à universalização e qualidade da educação pública, bem como mais e melhores empregos com igualdade de oportunidades para jovens homens e mulheres.

Isto requer organização e pressão popular em torno da agenda pública, articulado a robustos investimentos para as políticas públicas de juventude, bem como exige o combate sistemático à cultura machista que estrutura as desigualdades de gênero na sociedade brasileira e no mundo.