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As mulheres são mais prejudicadas no crime ambiental e social de Mariana

25 de Fevereiro de 2016

Mulheres

Mulheres CUTistas conheceram a realidade das atingidas e dizem que vão denunciar crime para a Organização Internacional do Trabalho (OIT)

Por Erica Aragão - CUT

Fotos Lidyane Ponciano

Já se passaram mais de 100 dias desde que a barragem de se rompeu em Mariana e região e pouca coisa mudou, ou quase nada. Famílias tiveram que sair de suas casas e as comunidades ficaram devastadas.

“As mulheres são as principais vítimas deste crime ambiental e social em Mariana”. A afirmação foi feita pela coordenadora Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens, Sonia Mara Maranho para as presidentas das CUTs estaduais Euci Ana da Costa Gonçalves, do Pará, Eliane Bandeira e Silva, do Rio Grande do Norte, Regina Perpetua Cruz, do Paraná, Beatriz Cerqueira, de Minas Gerais e a vice-presidenta da CUT Nacional, Carmen Foro, que se encontraram no Estado de Minas.

A presidenta da CUT Minas, Beatriz Cerqueira, recebeu as companheiras e acompanhou-as em uma visita em algumas regiões afetadas pelo rompimento das barragens de Fundão e Santarém, que aconteceu em 05 de novembro

“Não foi acidente, foi um crime! E o crime tem responsáveis: Samarco, controlada pela Vale, BHP. É um crime de dimensões nunca vistas na história recente do país, não só de Minas. Tem muita gente calada que deveria estar se pronunciando e cobrando medidas mais eficazes de segurança e de atendimento a todos e todas atingidas”, afirmou.

As barragens estouraram e a lama contaminada desceu morro abaixo, passando por cima e destruindo por completo a comunidade de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, entre outras.

A vida ao longo de quase 1000Km do Rio Doce foi destruída e a água do rio totalmente contaminada. Segundo o relatório feito pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), mais de 60 milhões de metros cúbicos de resíduos da mineração causaram a enxurrada de lama que matou pessoas, destruiu famílias, moradias, escolas, plantações, infraestrutura e fez com que centenas de pessoas, principalmente as mulheres, mudassem a sua rotina diária.

“Acho que aquele rio terá muita dificuldade de se recuperar. As pessoas saíram de suas casas e foram morar em lugares bem apertados, dormem e acordam vendo suas vidas soterradas de lama”, afirmou a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro.

“É uma desorganização total da sociedade, as famílias estão totalmente perdidas sobre o que vão fazer de suas vidas, e nós temos que cobrar a responsabilidade criminal desta empresa”, completou.

Segundo o documento, além de mais de 20 mortos, um milhão de pessoas estão sendo atingidas diretamente e indiretamente. 

Em Barra Longa foram 92 casas foram destruidas, mas é evidente que hoje toda população do lugar foi atingida. “Todos os dias chegam ônibus com mais de 600 trabalhadores para obras de recuperação da cidade. Hoje transitam caminhões pelas ruas, cidade pequena que não suporta este tipo de trânsito. O pó, a lama que traz doença continua afetando a vida da população”, explicou a presidenta da CUT Minas, Beatriz Cerqueira.

Segundo Beatriz, é a própria empresa que diz quem é atingido ou não, por isso nem todos que estão tendo reparação por parte da mineradora.

É o caso das mulheres.

Segundo Sonia, as mulheres precisam garantir a subsistência da família. “Em Barra Longa o que a gente mais ouviu de reclamação das mulheres é a questão do quintal. O fundo do quintal foi todo coberto de lama, não tem mais como produzir alimentos. As que perderam móveis, até hoje não têm sequer uma máquina de lavar roupa”.

As presidentas e a vice-presidenta da CUT fizeram um diálogo com as atingidas. Carmen lembrou emocionada o caso de uma senhora que para ganhar sua máquina de lavar de volta teve que provar que não consegue mais esfregar as roupas na mão.

A água que as pessoas não podem mais consumir do Rio Doce gerou mais trabalho para as mulheres. Elas agora precisam ir pra fila esperar água. “Um trabalho invisível diante da sociedade e do patriarcado”, justificou Sonia, que é moradora de Minas e coordena o movimento que está dando todo o apoio e organizando todos e todas atingidas.

Carmen citou que as responsabilidades da mulher com os cuidados familiares também aumentam. Os adolescentes, que estão numa fase complicada, e as crianças assustadas com medo também são responsabilidades da mulher.

“Nós encontramos uma senhora, separada, de quase 60 anos que está com o pai e mãe juntos e ela tem que cuidar deles, pois já são idosos. Os pais estão muito impactados e ela está tomando remédio para depressão e a assistente social da Samarco, que é quem cuida do atendimento psicológico da população de Mariana e região, disse que ela está bem. São as mulheres que acabam tomando conta dos doentes. Então a mulher tem que coordenar toda questão psicológica dela e da família”, contou Sonia.

A mulher quando está em situação de vulnerabilidade, sem comida por exemplo, ela diminui o consumo e dá para os filhos. “As mulheres são responsáveis historicamente pra cuidar de todo o processo e elas gastam muita energia com isso”, comentou a coordenadora do MAB.

Outra questão que acontece com esse caos, segundo Sonia, é que aumenta a violência contra as mulheres. “Os homens estavam no processo de comando antes da tragédia, agora os homens não tem o que fazer, pois eles perderam tudo. Como as mulheres são oprimidas neste sistema, elas acabam assumindo mais o comando nestes momentos de catástrofe. Mas com isso, acaba aumentando o alcoolismo, aumentando a violência contra mulher”, contou Sonia.

Beatriz citou também o caso de jovem grávida de 4 meses e com um bebê de dois anos que foi arrastada por mais de 1Km junto com toda a lama. “Além do filho que ficou evacuando e vomitando água por vários dias, ela sofreu um aborto espontâneo. Ela abortou na lama!

A presidenta da CUT Pará falou um pouco do que sentiu quando ouviu e viu a realidade das mulheres vítimas da Samarco. “As mulheres que estão lá resistindo são muito guerreiras. Elas querem o bem comum de volta, querem o acesso aos bens que eles conquistaram e que foi destruído. O que marcou é como as vítimas têm sido tratadas pela Samarco. Parece que a empresa está fazendo favor e além disso o mínimo que faz já acha que está fazendo tudo”.

Leia a reportagem completa no site da CUT