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Indústria 4.0: País precisa de política industrial para minimizar impactos

20 de Março de 2018

Trabalho

Os impactos da chamada Indústria 4.0 no mundo do trabalho foi o tema do debate promovido pelo Sindiquímica, no Fórum Social Mundial, com apoio da CNQ

O avanço tecnológico vem promovendo importantes mudanças em todos os setores produtivos, inclusive na indústria. Esses avanços vêm provocando mudanças estruturais que refletem no mundo do trabalho e na dinâmica socioeconômica. A automação, a digitalização, as tecnologias da informação e o desenvolvimento da internet e suas novas formas de comunicação consolidaram a Quarta Revolução Industrial. Os impactos da chamada Indústria 4.0 no mundo do trabalho foi o tema do debate promovido pelo Sindiquímica, no Fórum Social Mundial, na quarta-feira, às 19h, no auditório Chico Mendes, na tenda da CUT, instalada no Campus de Ondina (UFBA). A presidenta da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNRQ), Lucineide Varjão, participou do evento, cujo mediador foi o diretor do Sindiquímica, Carlos Itaparica.

O economista e professor da USP, João Furtado, destacou o importante papel da indústria no desenvolvimento do Brasil e criticou a ausência de uma política industrial desde os anos 1970, quando foram criados os Polos Petroquímicos no Brasil: Bahia, Rio Grande do Sul e São Paulo e outros grandes projetos industriais nacionais. Desde então, os governos não têm desenvolvido uma política industrial e por isso “o Brasil precisa urgentemente reconciliar o seu desenvolvimento com a política industrial, pois não há a menor possibilidade de haver uma política de desenvolvimento se a indústria não for o motivo dessa política de desenvolvimento”, explica ele.

Segundo o professor, o Brasil é um grande mercado para a Indústria 4.0. O problema é que as empresas vão trazer a tecnologia dos países do primeiro mundo, Estados Unidos, Japão e Alemanha, a mão de obra será reduzida drasticamente e não serão criados novos empregos adequados aos fatores de modernização da indústria, porque o robô vem de fora e não vai ser produzido pelos brasileiros.  Por isso que a luta pela Indústria 4.0 “deve ser a luta por colocar o desenvolvimento industrial no sistema industrial integrado no centro do projeto de desenvolvimento”, acrescenta ele. Porque do contrário a Indústria 4.0 no Brasil será um grande “braço mecânico sem cérebro nem pulmão”.

Outro caminho apontado pelo professor é que a Indústria 4.0 vai exigir trabalhadores altamente especializados que deverão entrar no mercado de trabalho tardiamente, mas que provavelmente terão jornada de trabalho reduzida. Recentemente, trabalhadores metalúrgicos alemães conseguiram a redução da jornada de trabalho para 20 horas.

A supervisora técnica do Dieese, Ana Georgina, explicou como a tecnologia vem sendo utilizada não apenas na indústria, mas em todos os setores como o financeiro, comércio, turismo e no transporte público. Em Salvador, por exemplo, o sindicato dos Rodoviários vem brigando com as empresas por conta da bilhetagem eletrônica que vai eliminar a função de cobrador nos ônibus. Enquanto no setor de serviços, o uso de tecnologia é bastante comum, para Ana Georgina, na indústria brasileira a nova revolução industrial está muito atrasada.

Para os trabalhadores o desafio de enfrentar a quarta revolução industrial é ainda maior. “Nós não superamos ainda a 3ª Revolução Industrial, então seria como saltar de uma coisa para outra sem que nesse meio tempo se consiga resolver os problemas como as desigualdades no mercado de trabalho. Se faz uma transição tecnológica, mas não faz uma transição nas relações de trabalho e muito menos se cria uma proteção social que consiga mitigar minimamente o uso dessa tecnologia”, finaliza a economista.