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Os impactos da nanotecnologia no mundo do trabalho vão além dos riscos à saúde do trabalhador

05 de Julho de 2016

Nano

A pesquisadora Arline Arcuri, da Fundacentro, dialoga sobre o tema na reunião ampliada da Secretaria de Saúde do Trabalhador da CNQ

Na tarde desta terça-feira, 5 de julho, a Secretaria de Saúde do Trabalhador da CNQ aproveitou a presença dos dirigentes da entidade para a reunião da executiva em São Paulo e realizou um diálogo sobre a nanotecnologia com a Arline Arcuri, da Fundacentro, que é especialista no tema, doutora em química e parceira dos sindicatos na defesa da saúde do trabalhador há muitas décadas.

Arline abordou na sua apresentação os conceitos básicos de nanotecnologia e o seu impacto no mundo do trabalho, que vai além da área de Saúde e Segurança no Trabalho. “A Nanotecnologia vem anunciar uma nova revolução industrial, a quinta se enumerarmos como primeira a têxtil, a segunda a ferroviária, seguida da automobilística e da criação do computador. Atualmente não existe ramo da economia em que a nanotecnologia não está, o problema é que a maioria não é identificada, já que não existe obrigação legal para isso”, pontuou.

Nanotoxilogia

De acordo com a apresentação da doutora, um dos aspectos mais preocupantes da nanotecnologia em relação à saúde é que os materiais mudam sua toxidade e possibilidades de entrar no corpo humano quando transformados em nanopartículas.

“Existem estudos antigos que mostram uma correlação significativa entre a mortalidade devido a doenças cardiorrespiratórias com o aumento das nanopartículas no ambiente”, destaca a pesquisadora.

Um exemplo de estudo de caso, citado na apresentação, foi de uma mulher de 25 anos com problemas vasculares no braço que, ao ser investigado, os médicos descobriram que havia materiais de cadeia de tungstênio próximo as veias dela. O marido dela trabalhava com material com essa substância e o diagnóstico final foi a contaminação da mulher pelo esperma do marido.  

“As vias de penetração de materiais nano nos nossos corpos são pela respiração, pele e ingestão”, afirmou Arline.

Vigilância e precarização

Entre os impactos da nanotecnologia no mundo do trabalho, além da saúde, está a vigilância que já chegou no ambiente de trabalho. “Hoje temos microcâmaras gravando por meio até de brincos e a consequência disso é a vigilância constante. Certas empresas usam trabalhadores para fiscalizar outros colegas para saber se usam luvas, botas, capacetes e os relatos devem ser levados à chefia. Isso impacta diretamente nas relações interpessoais, aumento das doenças mentais etc.”, disse.

Outro item levantado pela pesquisadora é o chamado Contrato de Trabalho Zero hora, pelo qual o funcionário fica à disposição do empregador o tempo todo, mas só recebe pelas horas trabalhadas.  “Ele ganha um celular da empresa, fica com WhatsApp ligado 24h por dia e a qualquer momento pode receber um chamado da empresa, às vezes para trabalhar por 20hs seguidas, mas só recebe por essas 20 horas. Ou seja, não tem como prever o salário do mês, também não pode arranjar outro emprego sob o risco de não poder atender o imprevisível chamado patronal. Isso já vem acontecendo muito na Europa e pode ocasionar problemas mentais graves, colocando até a questão de sobrevivência em xeque”.

Por fim, Arline destacou a importância da apropriação dessas discussões pelas lideranças sindicais e defesa intransigente do Princípio de Precaução. “Não sabemos se é tóxico ou não. E, como se diz no meio científico, sem dados, sem mercado. Ainda há muito pouco estudo, há muito a ser feito. Na Fundacentro esse estudo sobre os impactos da nano na saúde do trabalhador começou em 2007. Já fizemos quatro gibis, que estão disponíveis no site da instituição”.

O Secretário de Saúde do Trabalhador, Antonio Goulart, destacou a grande contribuição de Arline que “sempre nos atendeu prontamente não só em nanotecnologia, mas em outras áreas. Ela é uma lutadora social intensa e pretendemos, em breve, uma parceria mais ampla e didática sobre nanotecnologia para entendimento maior do ramo químico cutista sobre o tema”.

Série de entrevistas

A preocupação do impacto da nanotecnologia no mundo do trabalho fez com que a Secretaria de Saúde do Trabalhador da CNQ realizasse uma série de oito entrevistas com especialistas sobre o assunto. A ideia nasceu no FST 2014 (Fórum Social Temático), realizado em janeiro na cidade de Porto Alegre (RS), que também debateu o tema.

Confira AQUI o resultado desse trabalho e conheça um pouco mais sobre o tema.