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Problemas no transporte urbano atinge mais as mulheres, diz pesquisador

17 de Julho de 2018

Mulheres

Para José Hercílio, a violência, o assédio e o excesso de obrigações familiares prejudicam a mobilidade das mulheres da periferia

O blogue #Carta Ideias em Tempo Real publicou uma entrevista com o psicólogo social e pesquisador José Hercílio, que desenvolve há três anos um estudo de doutorado pela Fundação Getúlio Vargas sobre os conflitos vividos pelas mulheres na mobilidade urbana.

Hercílio, que também é padre na paróquia Maria Mãe da Igreja, localizada no bairro de M’Boi Mirim, em São Paulo, trabalha há 20 anos com as mulheres da zona sul, que para ele são “as que mais intervém na comunidade”. Seu primeiro trabalho como pesquisador foi com os clubes de mães da região, “para entender esse movimento histórico de luta contra as agruras da vida.”

Na entrevista ele conta que ouviu mulheres por faixas etárias e depois por questões específicas e a principal queixa das mais jovens é com segurança, violência e assédio sexual, enquanto as mulheres na fase adulta reclamam que não conseguem se locomover dentro do próprio bairro pois ônibus circulam só por uma avenida central e elas precisam disputar espaços com carros e motos nas ruas esburacadas e sem calçadas.

“Com transporte longe de casa e ruas mal iluminadas, a opção é não sair. Agregada a isso tem uma outra questão que são os empregos muito distante de casa. Elas gastam em média quatro horas indo vindo do trabalho. Não dá para fazer mais nada”, afirma.

Resistência e sobrevivência

Hercílio cita a pesquisa elaborada pelo Metrô, mostrando que as mulheres sentem e experimentam a cidade de um jeito muito mais integral do que os homens. “Os homens usam mais o carro, as mulheres andam mais a pé e se locomovem de maneira muito mais diversa, especialmente porque os cuidados e a gerência da vida da família é feita por elas”.

Não é possível pensar mais a mobilidade urbana a partir de um sujeito universal homem, diz o pesquisador. “Precisamos discutir a diferença funcional dos espaços públicos, e as mulheres têm um comportamento menos uniforme”.

“O espaço público não é acolhedor para as mulheres, desde que o mundo é mundo é assim. A elas ficou reservado o ambiente privado, onde elas vão fazer mil coisas sem receber por isso. As mulheres foram ocupando os espaços públicos como resistência e para a sobrevivência também. Podemos dizer que o espaço público é avesso às mulheres”, aponta Hercílio.

Para ler a íntegra da entrevista, clique AQUI.