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Sindicatos na Bielorrússia têm um rosto feminino, diz sindicalista

07 de Março de 2018

Internacional

Delegação que esteve no Brasil em intercâmbio com a CNQ pretende estender acordo de cooperação internacional

Por Gislene Madarazo

Quatro dirigentes sindicais do ramo químico da Bielorrússia, país localizado na Europa Oriental, estiveram no Brasil de 26 de fevereiro a 06 de março para um intercâmbio de informações e experiências com dirigentes da CNQ-CUT e da nossa afiliada Federação Interestadual de Trabalhadores em Minérios (FITEM).

Os companheiros e a companheira, representantes de trabalhadores dos setores de minérios, petróleo e energia, entre outros, são: Andrei Strunevsky; Igor Podlesny; Olga Rogovskaya e Valery Titov. 

Esse acordo de cooperação internacional teve início na Conferência do sindicato global IndustriALL, realizada no Rio de Janeiro em outubro de 2016. No ano passado,  a presidenta Lucineide Varjão, o então Secretário de Relações Internacionais da CNQ Fabio Lins e o o diretor da CNQ Iran da Cunha Santos (Sindimina RJ) estiveram na Bielorrússia para conhecer os sindicatos daquele país.

“Nesses dois anos percebemos que nossos povos são muito parecidos, trabalhadores de uma grande bondade e muito receptivos. Queremos ampliar essa cooperação não só no ramo químico, mas também com a CUT e outro ramos. Os sindicatos fazem parte do que podemos chamar de diplomacia popular, e isso possibilita nos conhecermos com os próprios olhos, receber informação verdadeiras, e não somente receber notícias através de jornais, televisão e Internet”, afirmou Valery Titov. 

Mulheres presidentas

De fato, entre as semelhanças entre os sindicatos do ramo químico da CUT e da Bielorrússia há um fato importante: a presença das mulheres em cargos de presidência. Assim como temos Lucineide Varjão na presidência da nossa Confederação, a Federação de sindicatos dos setores químico e petróleo da Bielorrússia tem uma presidenta: Svetlana Klotshok, uma trabalhadora do setor farmacêutico. “Estamos representados também por mulheres no sindicato global IndustriALL”, destaca Olga Rogovskaya.

Diferente do nosso país, a participação das mulheres no movimento sindical na Bielorrússia é muito forte. “Temos até uma expressão para isso, dizemos que na Bielorrússia os sindicatos têm um rosto feminino, dada a grande participação das mulheres nos sindicatos”, completa.

Taxa de sindicalização de 90%

As lideranças da Bielorrússia contam que o movimento sindical já comemora 110 anos naquele país e que o primeiro acordo coletivo foi celebrado, inclusive, pelos sindicalistas do ramo de vidros em 1920. A atual jornada de trabalho no país é de 40 horas semanais, e nos turnos noturnos o adicional é de 40%.

O sindicalismo é bem difundido na Bielorrússia e a média de sindicalização é bem alta, em torno de 90%. Na empresa petrolífera em que Olga Rogovskaya  trabalha, essa taxa chega a 96%.

O contato do Sindicato com os trabalhadores se dá por meio dos representantes sindicais presentes em todas as fábricas. “Cada setor da fábrica tem alguém relacionado ao Sindicato”, afirma Valery. “Há também as conferências dos sindicatos, conferências regionais que elegem os delegados para uma conferência nacional anual”, acrescenta Andrei Strunevsky.

Diálogo Permanente

Outra característica do movimento sindical bielorrusso é o diálogo permanente entre sindicatos, governo e as empresas, estabelecido em lei. “Isso acontece num nível nacional duas vezes por ano e uma vez por ano o presidente da federação de sindicatos se reúne com o presidente do país. Os empregadores, sindicatos se reúnem em nível estadual e municipal também para discutirem questões de conflitos e eventuais problemas”, relata Andrei Strunevsky.

Ataque aos direitos e resistência

No momento, os trabalhadores e trabalhadoras da Bielorrússia também estão resistindo às tentativas de diminuição de direitos. Valery e Andrei nos contam que os sindicatos conseguiram adiar uma discussão sobre mudanças na legislação trabalhista no ano passado. “Nós temos uma economia aberta, com influência do capital privado, que defende mão de obra barata, então temos uma mão de obra muito bem qualificada, mas com salário baixo. Isso é uma exigência do mercado privado, então tem também tentativas de alterar as leis de trabalho e nós estamos lutando contra essas mudanças que estão sendo propostas”, disse Valery.

“Conseguimos no ano passado anular essa discussão do novo código de trabalho, que pretendia aumentar o número de horas-extras possíveis, alterar o tempo do aviso prévio de 30 dias para sete dias, enfim pretendia aumentar o direito do empregador em detrimento dos direitos dos trabalhadores”, complementa Andrei.

O Intercâmbio no Brasil

Em São Paulo, a delegação reuniu-se com lideranças sindicais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), visitaram a sede da Central Única dos Trabalhadores e, em atividade na sede da CNQ, puderam conhecer um pouco da situação política e econômica do Brasil, da estrutura e funcionamento dos sindicatos e os desafios do movimento sindical com a nova legislação trabalhista.

Estiveram também em Sergipe e Bahia e conversaram com trabalhadores Sem-Terra (MST), conheceram o Terminal Marítimo de Aracaju e visitaram quatro usinas hidroelétricas na cidade de Paulo Afonso. Infelizmente, a visita agendada à Mina da Mosaic Fertilizantes não aconteceu, pois foi condicionada pela empresa à assinatura de um acordo coletivo com o SINDIMINA que prejudicaria os trabalhadores, o que obviamente não foi aceito pelo sindicato.