Voltar

Pesquisa FGV revela que 50% das mães são demitidas até dois anos após licença maternidade

17 de Agosto de 2017

Mulheres

Mulheres relatam o assédio e preconceito sofrido no trabalho durante e após a gestação em reportagem do Brasil de Fato

Por Julia Dolce - Jornal Brasil de Fato

Pelo menos metade das brasileiras foram demitidas no período de até dois anos depois da licença-maternidade, segundo pesquisa em andamento na Fundação Getúlio Vargas, a FGV. 

Realizado em um universo de 247 mil mães, com idade entre 25 e 35 anos, o estudo aponta também que, após seis meses de estabilidade, a probabilidade de demissão de mulheres que acabaram de se tornar mães é de 10%.

De acordo com Mariana Salinas Serrano, advogada trabalhista e co-fundadora da Rede Feminista de Juristas, a situação é mais recorrente do que se imagina.

"Há muitas histórias assim. Advogo há sete anos e isso é muito comum", ressalta. Para a advogada, o alto número de demissões de mulheres com esse perfil é fruto de discriminação:

"Quando o filho fica doente, o patronato entende que isso é um dever da mãe, porque a paternidade não é discriminada no mercado de trabalho, sendo que, na verdade, a responsabilidade pelo filho é dos dois, não só da mulher', defende. 

Indiferença

Mesmo ouvindo diferentes justificativas para as demissões, as mães entrevistadas pela Radioagência Brasil de Fato acreditam que a maternidade foi o principal motivo. É o caso da advogada Graziella Branda, que foi despedida três dias depois de voltar da licença-maternidade. Já havia sido contratada outra pessoa para sua vaga:

"Eu tenho certeza que foi pela gravidez. Eles falaram que foi por redução de custos, mas contrataram ela pelo mesmo salário que eu tinha".

Já Carla Ferreira era gerente de uma multinacional e foi demitida no dia em que terminou seu período de estabilidade, ou seja, tempo em que a lei garante a permanência no emprego. Ela conta que não esperava passar por essa situação, principalmente porque a empresa tinha um grande número de mulheres em cargo de chefia. 

"A princípio, meu diretor me chamou dizendo que, naquele momento, não tinha cliente para mim, mas queria me manter. Só que eu estava no período de estabilidade. Eu via que não era  aquilo, que outras pessoas estavam tendo oportunidade. Aí começaram a me dar atividades muito aquém do que eu fazia. Quem é que estava sendo preferida? As pessoas que não tinham filhos ou tinham filhos maiores", desabafa.

A arquiteta Ana Bueno* também foi surpreendida por uma demissão após o fim do seu período de estabilidade. "Minha antiga chefe falou que estava me mandando embora para eu cuidar do meu bebê. E ela mesmo estava grávida. Eu fiquei com vontade de falar muita coisa."

Machismo

A maioria das entrevistadas aponta que as demissões são consequência do preconceito e do machismo no ambiente de trabalho, além do fato de que a maioria dos chefes são homens. É o que conta Luana Calobrisi, que trabalhava com gestão de recursos humanos em uma empresa de mídias digitais. Ela foi demitida no começo deste ano, um mês após o fim de sua licença-maternidade.

"Quando a gente estava falando da licença, o gestor que me demitiu disse: 'Nossa, como é fácil ser mulher! É só engravidar e tirar licença. Não faz nada'. Como assim não faz nada?!"

Já Marília Trindade trabalha no setor financeiro de uma empresa importadora. Ela teve seu primeiro filho em maio deste ano e ainda está usufruindo da licença-maternidade. Com a proximidade do retorno ao trabalho, ela conta que o medo de ser demitida aumentou por já ter presenciado situações de preconceito com mulheres que se tornaram mães no seu antigo trabalho.

''Eu lembro que, na outra empresa que eu trabalhava, meu antigo patrão era bem caricato, grosso. Na época, duas pessoas engravidaram e ele as tratava muito mal. E, assim que elas voltaram, mandou embora. Ele mesmo falava que não gostava de contratar mulher porque era uma despesa."

O mesmo receio poderia ser compartilhado pela publicitária Michele Ribeiro, mas o anúncio de sua demissão ocorreu antes mesmo do seu bebê nascer. Grávida de oito meses, ela continua trabalhando na empresa mesmo sabendo que não voltará após a licença-maternidade.

''É uma visão machista que, na minha área principalmente, tem bastante. Qualquer mulher que ficasse grávida nessa gestão não seria bem vinda. Não é aceitável. Eu fui a primeira da área a engravidar, então já vai servir de alerta para as outras."

Leia e OUÇA a reportagem completa AQUI