Escrito por: Imprensa CNQ-CUT
VoltarBrasil: uma nova classe trabalhadora
15 de Setembro de 2013
Marilena Chaui abriu a primeira reunião de planejamento da nova direção da CNQ-CUT, realizada dias 3 e 4 de setembro, em São Paulo. Com uma análise...
Marilena Chaui abriu a primeira reunião de planejamento da nova direção da CNQ-CUT, realizada dias 3 e 4 de setembro, em São Paulo. Com uma análise de conjuntura que desenha o perfil da nova classe trabalhadora, a filósofa e professora da USP destacou a importância da política e contribuiu para a reflexão e o debate de uma atenta plateia que ouviu, questionou, participou...
3 de setembro: Itamar Sanches, secretário-geral da CNQ-CUT, Lucineide Varjão Soares, presidenta, e a professora Marilena Chaui abrem palestra no auditório do Sindicato dos Químicos SP
Os 40 dirigentes da CNQ-CUT e convidados tiveram a oportunidade de compartilhar da palestra promovida pela Confederação para brindar o início do mandato da nova gestão 2013-2017. Como afirmou Lucineide Varjão Soares: “Marilena veio nos provocar”. Provocar a reflexão, o questionamento, o conhecimento e contribuir para que a nova direção realmente coloque em prática um projeto de classe, direcionado à classe trabalhadora.
Com o objetivo de compartilhar esse momento, a Confederação coloca à disposição do leitor a íntegra da exposição que resgata a história, analisa o neoliberalismo e o consumo de massa para apresentar o cenário atual frente aos novos desafios.
Abaixo, alguns trechos da apresentação.
Leia e discuta com os/as dirigentes do seu sindicato.
Para capturar o texto na íntegra, clique aqui.
“Brasil: uma nova classe trabalhadora
Por Marilena Chaui*
I.
Alguém que, nos anos 1950-1960, conhecesse as terríveis condições de vida e de trabalho das classes populares brasileiras e, naquela época, tivesse viajado por uns tempos pela Europa costumava ser duplamente surpreendido.
Primeira surpresa: via operários dirigindo pequenos carros (na França, o famoso “dois cavalos” da Renault; na Inglaterra, o pequenino “biriba” da Morris; na Itália, o pequeno “cinquecento” da Fiat), saindo de férias com a família (em geral para alguma praia), fazendo compras em lojas de departamento populares (na França, o Prixunic, na Inglaterra, o Woolworths e C&A), enviando os filhos a creches públicas e, quando maiores, à escola pública de primeiro e segundo graus, às escolas técnicas e mesmo às universidades; também via os trabalhadores tendo direito, juntamente com suas famílias, a hospitais públicos e medicamentos gratuitos, e, evidentemente, possuíam casa própria. Era a Europa do período fordista do capitalismo industrial, portanto da linha de montagem e fabricação em série de produtos cujo custo barateado permitia o consumo de massa. Mas era, sobretudo, a Europa da economia keynesiana, quando as lutas anteriores dos trabalhadores organizados haviam levado à eleição de governantes de centro ou de esquerda e ao surgimento do Estado do Bem-Estar Social, no qual uma parte considerável do fundo público era destinada, sob a forma de salário indireto, aos direitos sociais, reivindicados e, agora, conquistados pelas lutas dos trabalhadores. Segunda surpresa: a diferença profunda entre a situação, por exemplo, dos trabalhadores suecos – desde os salários e direitos sociais até os direitos culturais – e a dos espanhóis, portugueses e gregos, ainda submetidos a ditaduras fascistas e forçados a emigrar para o restante da Europa em busca de melhores condições de vida e de trabalho.
Entretanto, não passaria pela cabeça de ninguém dizer que os trabalhadores europeus haviam passado à classe média. Curiosamente, é o que se diz hoje dos trabalhadores brasileiros, após 10 anos de políticas contrárias ao neoliberalismo.
Sugerimos aqui que, pelo contrário, há no Brasil uma nova classe trabalhadora cuja composição, forma de expressão pública e de consciência permanecem ainda muito difíceis de apreender e compreender, mesmo usando o conceito de Paul Singer de subproletariado ou de precariado, proposto por alguns cientistas sociais.
(...)
6. Politicamente, as novas tecnologias de informação estruturam um novo poder planetário de vigilância e de controle que suplanta os Estados nacionais e as particularidades sociais. Trata-se da internet e da multimídia. A internet é um ponto de convergência entre uma arquitetura industrial, múltiplas linguagens informáticas e um grande número de práticas intelectuais e cognitivas, econômicas, sociais, políticas, artísticas e de lazer. É uma organização de informações, um enxame de redes privadas e públicas, institucionais, comerciais, governamentais, associativas conectadas em inúmeros “nós”...
(...)
III.
Estudos, pesquisas e análises mostram que houve uma mudança profunda na composição da sociedade brasileira, graças aos programas governamentais de transferência da renda, inclusão social e erradicação da pobreza, à política econômica de pleno emprego e elevação do salário mínimo, à recuperação de parte dos direitos sociais das classes populares (sobretudo alimentação, saúde, educação e moradia), à articulação entre esses programas e o princípio do desenvolvimento sustentável e aos primeiros passos de uma reforma agrária que permita às populações do campo não recorrer à migração forçada em direção aos centros urbanos.
*Marilena Chaui é filósofa e professora da USP