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VoltarCampanha Salarial e Desenvolvimento Econômico
05 de Setembro de 2014
*Clemente Ganz Lúcio Campanhas salariais são processos complexos nos quais os trabalhadores se mobilizam para estabelecer as regras que definirão os...
Campanhas salariais são processos complexos nos quais os trabalhadores se mobilizam para estabelecer as regras que definirão os salários e as condições de trabalho no próximo período de um ano ou mais. A mobilização e a organização sindical influenciam o clima das mesas de negociação, que buscam os acordos.
O momento da negociação é fundamental para definir (e garantir) as condições de produção, os salários, os benefícios (alimentação, saúde, creche, entre outros) e condições laborais (jornada, segurança, saúde etc.), disputando parte da riqueza gerada pelo trabalho. No primeiro semestre de 2014, para os trabalhadores, a negociação foi exitosa. Segundo pesquisa do Dieese, houve aumento salarial em 93% das Convenções ou Acordos Coletivos celebrados no período. A maioria dos ganhos reais variaram entre 1% e 3%.
Esses resultados, um dos melhores da série histórica da pesquisa para o primeiro semestre, ocorreu porque há um ambiente econômico favorável no Brasil. A grave crise internacional colocou, já há algum tempo, as maiores economias em recessão e trouxe para os trabalhadores desemprego, arrocho salarial e perda de direitos. A economia brasileira resistiu à conjuntura adversa que assolou diversos países, isso porque privilegiou o mercado interno de consumo e de produção, gerando emprego e renda, consumo de massa, o que animou a produção e manteve os ganhos das empresas.
Nesse cenário, o emprego cresceu, o desemprego e a informalidade diminuíram, o que trouxe de volta o ânimo dos trabalhadores para a luta sindical. O ambiente das mesas de negociação repercutiu o ganho de lucro por parte das empresas e a disposição dos trabalhadores para buscar melhores salários, benefícios e condições de trabalho.
O desempenho da economia é a base para o avanço dos resultados das negociações coletivas. Colocar, como foi feito no Brasil, o emprego e o salário na frente da estratégia de desenvolvimento econômico é fato raro na história econômica do País. É urgente fortalecer essa estratégia com investimentos para ampliar a capacidade produtiva das empresas, para a inovação, para a agregação de valor na industrialização, articulada com a produção no campo, os serviços e o comércio, bem como ampliar a capacidade do Estado para ofertar serviços públicos de saúde, educação, transporte, moradia e infraestrutura econômica (estradas, energia, portos, aeroportos etc.).
Lutar para favorecer essas dimensões do desenvolvimento econômico é essencial para o acordo que melhorará a vida dos trabalhadores.
*é sociólogo, diretor técnico do Dieese e membro do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social)