Escrito por: Remigio Todeschini
VoltarO avesso do combate ao Trabalho Escravo e os Químicos
17 de Outubro de 2017
O atual governo é o avesso do governo anterior (Lula e Dilma), que estava comprometido com o direito dos trabalhadores e diversas políticas sociais, além do combate sistemático ao trabalho escravo. Temer, o avesso, voltado para o mercado predador, está comprometido até a medula óssea com a corrupção e sendo entreguista de nossas riquezas ao capital internacional. Para aplainar o caminho ao capital internacional, já que pretende vender terras nacionais aos estrangeiros, no último dia 13 de outubro baixou uma portaria do Ministério do Trabalho para revogar de vez o combate ao Trabalho Escravo. Criou mil e um obstáculo para o reconhecimento do trabalho análogo à escravidão, principalmente no Campo. Quer com isso disseminar práticas escravagistas como avesso também da Política de Direitos Humanos conquistada em 1948!
Dias atrás, tive oportunidade de conhecer detalhadamente um dos processos de condenação por trabalho escravo de fazendeiros do Mato Grosso do Sul em trâmite no Tribunal Federal de São Paulo, a pedido da Coordenação do Núcleo de Pesquisas de Violência e Segurança, da Universidade de Brasília, do qual faço parte como pesquisador voluntário. A narrativa e as provas que são bem elaboradas pela fiscalização do Ministério do Trabalho não deixam dúvidas dessa mazela. Os trabalhadores são aliciados por “Gatos”. Com um mísero vale tem de comprar tudo (sabão, material de higiene etc.) e ficar devendo para esse gato. Moram na própria pastagem, debaixo de lonas improvisadas e galhos de árvore. Tomam água do próprio banhado, onde tomam banho junto com os animais da pastagem. Fazem as necessidades limpando-se com a folhagem nativa destes campos. Pior: sem qualquer proteção devem aplicar venenos (Herbicidas) e outros agrotóxicos organoclorados entre outros, cujos efeitos tóxicos sobre as pessoas são devastadores. Velhos conhecidos dos trabalhadores químicos aqui em São Paulo.
O interessante é que na condenação de um dos fazendeiros a pena de prisão em segunda instância foi aumentada pelo fato do fazendeiro ter deixado os trabalhadores sem qualquer proteção na aplicação desses produtos químicos (venenos e agrotóxicos).
O avesso do atual governo, deixando inerte a fiscalização do Ministério do Trabalho, é dar continuidade a uma prática mais do que medieval e desumana. Tudo ao capital, e gozo pleno aos capitalistas predadores rentistas!. É UMA INVERSÃO TOTAL DOS PRINCÍPIOS DA SOLIDARIEDDE HUMANA!!!!. Com as novas medidas, o Ministro do Trabalho do Temer se equipara a um capitão de mato. Está sedento pela continuidade do trabalho escravo, assim como patrocina o maior retrocesso trabalhista ao propor a atual “Deforma” Trabalhista, que entrará em vigor em novembro de 2017.
A questão dos agrotóxicos e dos herbicidas está presente no dia a dia na vida dos químicos. Bem conhecemos os resultados desta contaminação. Várias lutas ocorreram contra a contaminação na área química no Estado de São Paulo: como na Ferroenamel (Chumbo); Matarazzo (Benzeno); Solvay (Mercúrio) – essas todas no ABC -; Nitro Química (Dissulfeto de Carbono), em SP; e ultimamente a contaminação do solo, água e do meio ambiente na fábrica da Shell/Basf, em Paulínia/Campinas, que teve de ser fechada para não continuar a gerar doentes e mortos devido à contaminação por organoclorados. Mais de 80 trabalhadores morreram desde então, muitos acometidos por câncer, e até um dos trabalhadores se suicidou. Houve uma mobilização intensa dos trabalhadores químicos de Campinas (Sindicato dos Químicos Unificados) para indenização dos trabalhadores e para desenvolver um amplo trabalho de pesquisa e tratamento dos trabalhadores contaminados.
É desumano e crime hediondo termos a continuidade do trabalho escravo ainda hoje no Brasil! Pior: o próprio trabalho escravo utilizar os agrotóxicos e herbicidas que contaminam trabalhadores, nossa alimentação (boi, pastos e diversas produções agrícolas)!!!!!!
A questão, como pessoas amantes do bem e da verdade, é reagir sempre e acompanhar as atividades de mobilização das Centrais Sindicais e da nossa campanha salarial em curso!
Não ao retrocesso, não ao trabalho escravo, e não à continuidade de qualquer contaminação química!
*Remigio Todeschini é Ex-Presidente dos Químicos do ABC, pesquisador e consultor na área de Saúde, Trabalho e Previdência da FETQUIM-SP