Após explosão, produção da Replan continua parada
21 de Agosto de 2018
Saúde e Segurança
A produção da Refinaria de Paulínia continua parada nesta terça-feira (21/08), sem previsão de normalização. Duas unidades foram afetadas pela explosão e o incêndio, ocorridos no início da madrugada desta segunda-feira (20). Trabalhadores garantem que este foi o pior acidente registrado na história da maior refinaria do país, inaugurada em maio de 1972.
Uma comissão para investigar as causas da explosão foi instaurada e começou a atuar hoje, com a participação de representante do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP). Para a direção sindical, o acidente é resultado do processo de desmonte da Petrobrás, promovido pelo governo de Michel Temer (MDB) para privatizar a empresa.
A explosão não teve vítimas, mas causou pânico nos trabalhadores. Cerca de 50 empregados próprios e terceirizados executavam serviços nas unidades atingidas. No momento do acidente, ocorrido a 00h51, como mostra um vídeo com imagens internas viralizado no whatsapp, não havia ninguém na área afetada. Era horário do jantar e os trabalhadores estavam reunidos no restaurante.
Outro vídeo, também registrado pelo circuito interno e compartilhado nas redes sociais, mostra uma petroleira passando pela área atingida sete minutos antes da explosão. “Por muito pouco não tivemos uma fatalidade”, afirma o diretor do Sindicato Gustavo Marsaioli.
Além de colocar em risco a vida dos trabalhadores, o acidente também assustou moradores próximos à refinaria e de cidades vizinhas. O barulho da explosão foi tão forte que pode ser ouvido a cerca de 40 quilômetros de distância.
Morador de Americana, do bairro Vila Omar, o técnico em elétrica Edson Lima contou que acordou com o estrondo, por volta da 1h. “Quando fui sair para o trabalho, encontrei minha vizinha e perguntei se ela tinha ouvido o estouro de madrugada. Só mais tarde é que vi a notícia e soube que tratava-se de uma explosão na Replan”, comentou.
Manutenção terceirizada
A explosão ocorreu em uma unidade de craqueamento (processo que transforma as partes mais pesadas e de menor valor do petróleo em moléculas menores, dando origem a derivados mais nobres, aumentando o aproveitamento do petróleo). O tanque de águas ácidas explodiu, provocando incêndio na área. As chamas de alastraram e atingiram uma unidade de destilação (processo no qual o petróleo é aquecido em altas temperaturas até evaporar, para separação dos derivados, como gasolina, querosene de aviação, diesel e asfalto, entre outros).
O que chama a atenção do Sindicato é que o acidente aconteceu poucos dias após o término de uma parada para manutenção do craqueamento. Pela primeira vez, o serviço foi executado por uma empresa de fora, apenas com trabalhadores terceirizados. O serviço incluiu a manutenção das grandes máquinas, que demandam conhecimento específico e mais qualificado.
“Historicamente, a manutenção desses grandes equipamentos, que são considerados o coração das unidades, sempre foi feita por mão de obra própria, utilizando-se, principalmente, do acervo técnico e acúmulo de experiência, conhecimento que era passado de trabalhador a trabalhador”, explica o diretor do Unificado Jorge Nascimento.
Parada emergencial
A explosão, seguida do incêndio, causou a paralisação emergencial de toda a refinaria. Hoje, o setor administrativo retomou o serviço, mas a parte de produção continua parada e sem previsão de retorno.
A Replan tem duas unidades de craqueamento e duas de destilação. Como apenas duas das quatro unidades foram afetadas, a refinaria poderia retomar o processo operacional parcialmente.
O problema é que várias linhas de tubulação, que passam pelas unidades prejudicadas, sofreram grandes avarias e essa malha é fundamental para o acionamento parcial da refinaria. Sem essas linhas periféricas funcionamento perfeitamente, as duas unidades da destilação e do craqueamento, que não foram atingidas pelo acidente, ficam sem condições de operar.
O Unificado aponta o processo de desmonte da Petrobrás, com a redução do efetivo mínimo operacional e a precarização das manutenções preventivas, como uma das principais causas de acidentes na empresa. Segundo o Sindicato, o governo golpista quer enfraquecer a empresa para vendê-la a preço de banana. “Há anos o Sindicato vem denunciando essa política da destruição, o sucateamento da Petrobrás e a falta de segurança, que se agravou ainda mais com a redução do efetivo mínimo operacional”, declara o coordenador do Unificado, Juliano Deptula.
Desde a implantação do estudo de Organização e Métodos (O&M) da Petrobrás, em junho do ano passado, que promoveu o corte no número mínimo de trabalhadores e aumentou as condições de risco, a Replan já sofreu quatro paradas emergenciais. “Grande parte dos trabalhadores afirma que nunca se viu na refinaria um acidente com um potencial tão grande quanto foi este”, alertou Marsaioli.
Por Alessandra Campos - Assessora de Comunicação
Sindipetro Unificado-SP