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Confederação participa de seminário sobre trabalho e desigualdades de gênero, em Brasília

08 de Novembro de 2013

Mulheres

A Secretaria da Mulher Trabalhadora da CNQ-CUT participa de seminário organizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da...

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A Secretaria da Mulher Trabalhadora da CNQ-CUT participa de seminário organizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República 

 

 

“É muito importante essa série de discussões sobre as condições das mulheres no mundo do trabalho. Em todo o contexto, é preciso discutir mulher e trabalho porque os paradigmas estruturantes não mudam. A divisão sexual do trabalho é tão diferenciada que, mesmo as mulheres tendo mais escolaridade, elas não conseguem alçar postos de direção no âmbito interno das carreiras”, considerou a ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR). Esse foi o foco da abertura do seminário Desafios para a Autonomia Econômica das Mulheres na Contemporaneidade, realizado dias 4 e 5 de novembro, em Brasília.

Na saudação às gestoras públicas, lideranças de empresas e sindicatos, a ministra também elencou a maternidade, o assédio moral e sexual e a diferença salarial como elementos de desigualdades entre mulheres e homens. “A divisão sexual do trabalho começa dentro de casa. É estruturante em todas as esferas no mundo do trabalho. Em casa, é marcada pelas tarefas domésticas. E se reproduz no mundo privado e público”, analisou.

Com produção científica sobre gênero e trabalho, Menicucci chamou a atenção para pesquisas relacionadas ao tema, tais com as de Helena Hirata, reveladoras da interferência da violência contra a mulher na vida profissional das trabalhadoras. “Hoje foi divulgado o aumento de 18,7% de estupros no Brasil no ano de 2012, em relação a 2011. São dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) e do Ministério da Justiça. Todas as mulheres estupradas não conseguem voltar para o mundo do trabalho por causa do estresse pós-traumático”, considerou.

Retorno ao trabalho - A ministra da SPM falou sobre o sentimento de culpa que acomete as mulheres no momento da gestação e a ansiedade para voltar ao emprego. “A mulher se afasta para ter filhos e volta para o trabalho com uma culpa enorme por não estar lá com a criança. Qual é o discurso e a narrativa dos patrões? A produtividade vai cair. Ele só não retira o salário por causa da lei e da ação de sindicatos, movimentos de mulheres e feministas. Mas ele a desloca”, completou.

Voltando-se ao público do encontro, Menicucci fez o alerta: “a autonomia econômica das mulheres tem que ser discutida de forma transversal. Ter salário, direitos sociais iguais, ascender nos conselhos empresariais, ter o seu empreendimento rural são questões fundamentais”. E reiterou o respeito às escolhas das mulheres, exemplificando com a maternidade. “É preciso mudar o paradigma cultural e entender que a maternidade é um direito da mulher, se ela quiser ter filhos. Que as conclusões desse encontro sirvam para que vocês possam mudar ainda mais as condições das mulheres no mercado de trabalho”, concluiu a ministra.bras 07 11c4 de novembro (da esquerda para a direita): Lucimar Rodrigues, da CNQ-CUT; Maria Cristina Corral, da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres-SP; Eleonora Menicucci, ministra da SPM-PR; e Tatau Godinho, da Secretaria de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres-PR.

Para Lucimar, que assumiu a Secretaria da Mulher Trabalhadora da Confederação: "A tradição de luta das mulheres do ramo químico garantiu uma série de avanços na categoria ao longo dos anos. Mas ainda há muito a ser conquistado nos ambientes de trabalho e na sociedade. Esse seminário contribuiu com informações, troca de experiências e estará reforçando ainda mais nossas atividades na CNQ, como o debate sobre paridade, por exemplo. Como foi destacado, a economia cresceu mas as desigualdades entre trabalhadoras e trabalhadores continua”.

 

Na mesa de abertura, a secretária de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres, Tatau Godinho, considerou que os últimos dez anos têm sido marcados por mudanças nas políticas públicas e no empoderamento das mulheres no mundo do trabalho. Porém, frisou que é preciso “debater para saber onde estão os nós para diminuir as distâncias entre mulheres e homens. Temos de ter mais conhecimento e vozes para divulgar as condições reais”. O ato foi acompanhado pela secretária executiva da SPM, Lourdes Bandeira, entre outras autoridades e integrantes de entidades de classe. A CNQ-CUT (Confederação Nacional do Ramo Químico) também esteve presente e foi representada pela dirigente Lucimar Rodrigues da Silva, da Secretaria da Mulher Trabalhadora.

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 5 de novembro (da esquerda para a direita): Patrícia Toledo Pelatieri, do DIEESE, Hildete Pereira de Melo, da SPM da Presidência da República, e Marilane Teixeira, da Unicamp

 

Pesquisadoras discutem a autonomia

das mulheres no contexto da crise econômica

“Quando a economia vai mal, os postos de trabalho sofrem redução”, resumiu Patrícia Toledo Pelatieri, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), no segundo dia do seminário.

Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2012, Patrícia expôs algumas características da inserção das mulheres no mercado de trabalho. Do total de ocupados, as mulheres correspondem a 42,4%, cerca de 40 milhões de trabalhadoras. Deste quantitativo, 60,2% estão no setor de serviços; 17,4% no comércio; 9,8% na agricultura e 0,6% na construção civil.

Ao tratar da autonomia das mulheres no contexto da crise econômica, Patrícia explicou que elas sofrem mais diretamente os impactos da crise do que os homens. “Com a retração da produção, há demissões. E as mulheres estão inseridas em setores mais vulneráveis aos efeitos da crise, como o setor de serviços e comércio”, avalia.

Para a economista, ampliar a inserção das mulheres nos setores mais estruturados do mercado de trabalho é um dos desafios para a autonomia econômica das mulheres.

População idosa – Devido à transformação na pirâmide etária da população brasileira, Patrícia chamou a atenção para a situação das mulheres idosas. “A população idosa tem crescido e, nesta faixa etária, as mulheres são maioria. São mulheres idosas, vindas de uma estrutura produtiva de baixa remuneração”, pontuou. Segundo ela, a maior parte das mulheres se aposenta por idade e apenas com um salário mínimo. “Políticas direcionadas para garantir a autonomia econômica desta população também é um desafio”, arrematou.

Desigualdade de rendimentos – A economista Marilane Teixeira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), resgatou números do crescimento do país entre os anos de 2003 e 2004, que se manteve até 2008. “Entre 2003 e 2004, o Brasil cresceu 4% ao ano. Do ponto de vista do mercado de trabalho, o número de carteiras assinadas aumentou, assim como o valor dos rendimentos, tanto para homens como para mulheres”, afirmou.

No entanto, a economista frisou que, apesar do crescimento, não houve redução na diferença salarial entre homens e mulheres. “A economia cresceu, mas não foi capaz de reduzir as desigualdades salariais entre trabalhadoras e trabalhadores”. Para a economista, não será o mercado de trabalho que irá produzir mudanças nesse sentido. “É fundamental implementar políticas públicas para atenuar estas desigualdades”, salientou.

Em 2012, com base nos dados da PNAD, Marilane assinala que 66% das mulheres ganhavam cerca de dois salários mínimos. “Há uma concentração de mulheres em uma estrutura de baixos salários”, afirmou.

Evento – Os dois dias do seminário reuniram gestoras, pesquisadoras, representantes de centrais sindicais, de entidades de classes e de comitês de gênero de empresas participantes do Pró-equidade de Gênero e Raça, programa articulado pela SPM.

 

Fotos: Raquel Lasalvia/SPM e Acervo CNQ-CUT

Fonte: SPM-PR com informações da Imprensa-CNQ-CUT

 

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