Contaminação: Ação pede que a Hydro faça 20 mil exames em moradores
19 de Março de 2018
Minérios
Ação é movida pela Associação que teve um de seus líderes assassinado na segunda-feira 12/3 por denunciar poluição da empresa desde 2017
A Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama), através do advogado Ismael Moraes, entrou com ação judicial pedindo que a empresa Hydro Alunorte se responsabilize por mais de 20 mil exames clínicos para avaliar as condições de saúde da comunidade do entorno da planta de Barcarena, no Pará.
A informação está na reportagem de Mauro Neto e Enderson Oliveira, do Diário do Pará.
O pedido se baseia nos laudos do IEC e do Laboratório de Química Analítica e Ambiental (Laquanan), da Universidade Federal do Pará (UFPA), que descreve que 24 comunidades em Barcarena foram contaminadas, dado presente em pesquisas realizadas em 2009, 2013, 2016 e agora.
Segundo o advogado, “a associação busca na Justiça o custeio imediato dos tratamentos pela contaminação e as sequelas desse sistema de poluição instalado e mantido sob a prevaricação das autoridades da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas)”. O documento, segundo o advogado, destaca a “necessidade urgente de realização de exames específicos para atestar o grau de contaminação no sangue dessas famílias e as medidas a serem tomadas com vistas à preservação da própria vida dessas pessoas”, em especial após o vazamento de resíduos que deveriam ter sido contidos pelos Depósitos de Rejeitos Sólidos (DRS 1 e DRS 2) no local nos dias 17 e 18 de fevereiro, quando fortes chuvas atingiram a região.
A reportagem também alerta que as pessoas, diante do quadro de contaminação, podem desenvolver a doença chamada saturnismo, cujos sintomas são dor de cabeça, febre, cólica e constipação intestinal, dores articulares, anemia, agressividade, alucinações, paralisias, cegueira, perda da fala.
É justamente por isso que o pedido de liminar protocolado por Ismael Moraes pede que a Hydro arque com o tratamento das pessoas contaminadas, mesmo que precisem ser levadas para tratamentos especializados em outros estados.
E também denuncia o descaso das autoridades e o assassinato das lideranças comunitárias:
“POLUIÇÃO E ASSASSINATO
“A Hydro continua contaminando justamente os rios de Barcarena, na Amazônia, um dos mais ricos ecossistemas do planeta”, argumenta Ismael Moraes. O quadro de poluição em Barcarena já é denunciado há mais de um ano pelo DIÁRIO.
Os danos ambientais causados pela Hydro Alunorte vêm sendo também destacado em jornais pelo mundo, como o tradicional inglês The Guardian, as agências Reuters e BBC, e jornais da Noruega, como Dagens Naeringsliv (DN), um dos principais do País.
Foi no The Guardian, inclusive, que um forte e crítico panorama da Hydro em Barcarena foi apresentado na sexta-feira (16). Desde a manchete, o jornal já apresenta o “resumo” da situação: “poluição, doenças, ameaças e assassinato”, fazendo referência à execução de Paulo Sérgio Almeida Nascimento, 47 anos, morto a tiros na segunda-feira (12). Ele era um dos representantes da Cainquiama que, desde 2017, já vinha questionando a prefeitura de Barcarena se a empresa Hydro possuía autorização para construir as bacias de rejeito, como os Depósitos de Rejeitos Sólidos 1 e 2 (DRS 1 e DRS 2). O caso mostra também o descaso do Governo do Pará com a proteção dos denunciantes e vítimas da poluição na região. Apesar do promotor de Justiça Militar Armando Brasil ter solicitado proteção aos moradores, o pedido foi negado por Jeannot Jansen, então Secretário de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará.”
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