Mulheres do Ramo Químico são homenageadas nos 30 anos da Comissão de Mulheres da CUT-SP
28 de Novembro de 2016
Mulheres
Celebração marca as três décadas de lutas e conquistas da mulher trabalhadora
Mulheres cutistas do Estado de São Paulo se reuniram na última sexta-feira (dia 25) para celebrar os 30 anos da criação da Comissão da Questão da Mulher Trabalhadora da CUT-SP. A sede da Central foi o palco das comemorações e debates dessa data, também marcada pelo Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher. Reunidas no 2º Módulo do Projeto Ubuntu, na cidade de Cabreúva (SP), as trabalhadoras do ramo químico interromperam a atividade e se deslocaram para a capital paulista especialmente para prestigiar o evento.
Na solenidade, aos gritos de “Ubuntu! Ubuntu!”, as químicas saudaram com euforia as sindicalistas e militantes que construíram a história da Central. Lucineide Varjão, presidenta da CNQ-CUT, foi uma das homenageadas por sua trajetória feminista ao lado de Lucimar Rodrigues, coordenadora da Secretaria da Mulher Trabalhadora. “Nossos direitos sempre foram conquistados com luta. Nunca conseguimos nada de graça. Tudo foi alcançado com muita persistência. Hoje, na conjuntura atual, essa celebração nos fortalece ainda mais porque olhamos para trás e concluímos: ‘puxa vida, nós conseguimos!’. Completamos 30 anos de história e resistência nesse momento político crucial de enfrentamento para o movimento sindical, para os movimentos sociais. Sim, porque todos os dias testemunhamos novos ataques, perseguições contra a classe trabalhadora e contra os direitos das mulheres. Então, uma comemoração como essa nos fortalece para continuar mais três décadas. E que venham mais mulheres com garra para seguir essa batalha”, destacou Lucineide.
Projeto Ubuntu: revigorar a participação
O 2º Módulo do Projeto Ubuntu reuniu 35 representantes de vários segmentos do ramo químico para discutir a questão de gênero em nível nacional. Uma breve pausa dessa atividade garantiu a chegada de surpresa na comemoração da CUT-SP. Emocionada, Lucineide avaliou: “Hoje (dia 25) discutimos justamente a história das mulheres e elaboramos uma linha do tempo para resgatar onde cada uma de nós estava em cada período, em cada década. E aí passa uma espécie de filme em nossa cabeça,... porque muitas não sabem que o papel da mulher foi importante na luta contra a escravidão, contra o golpe militar de 1964, em defesa da democracia e em outros momentos históricos do país. Por isso, considero fundamental relatar esses momentos nem sempre registrados em algum lugar. Temos uma dura batalha pela frente. Mas estou feliz porque a chegada de uma mulher na presidência da República já alterou conceitos. Do ponto de vista simbólico, várias mulheres também “chegaram lá”. Multiplicamos as ações, começamos a pensar num projeto e numa política não somente para os homens, mas para uma sociedade com a sua diversidade: com mulheres, negros, jovens e trabalhadores de variados ramos de atividade”.
Lucineide Varjão: militância feminista
“Eu cheguei no sindicato em 1993. Em 1997 eu já integrava a suplência da direção da CNQ-CUT. Comecei minha militância feminista no movimento de mulheres do Sindicato dos Químicos de SP, ao lado de valorosas companheiras que lá estiveram à frente da entidade. Já tivemos uma mulher na presidência do sindicato, a Isabel Conceição da Silva, que representa um importante quadro na história de organização das trabalhadoras. Inclusive, hoje ela foi citada nesta comemoração.
Minha trajetória começa nesse contexto. Depois, participei da comissão de mulheres da CUT Estadual e, logo após, da CUT Nacional. De lá para cá deslanchei porque a gente vai acumulando experiência, vai se informando e se formando.
Hoje estou aqui, além de presidenta da CNQ, fui eleita co-presidenta da América Latina e Caribe do sindicato global IndustriALL, que representa 50 milhões de trabalhadores no mundo. Esse é o reconhecimento de um trabalho coletivo e um desafio porque temos grandes tarefas pela frente, como a implementação da paridade em nossa Confederação. As mulheres têm que participar, têm que ocupar os espaços na política, nos sindicatos, nos partidos, nos movimentos sociais.”
Luta das cutistas garante avanços
Na mesa de abertura, a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT São Paulo, Ana Lúcia Firmino, falou sobre conquistas que marcaram estas três décadas e contribuíram para o fortalecimento dos sindicatos, conquistas e empoderamento das mulheres. “A luta é feita por mulheres e homens e esta celebração dos 30 anos é fruto de lutas e diálogos construídos aos poucos dentro do movimento social e na sociedade”, disse.
Presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo fez referência à igualdade de gênero que a Central conseguiu implementar neste último período. “A CUT inova ao implementar em suas instâncias a paridade para a construção de igualdade nos espaços políticos. Isso porque a nossa sociedade ainda é machista e patriarcal e há ainda muita desigualdade no mundo do trabalho, mas, demos passos grandes.
Izzo também apontou que o movimento hoje faz o enfrentamento ao governo golpista de Michel Temer que, segundo ele, representa o colapso da economia brasileira e a retirada dos direitos da classe trabalhadora.
A secretária da Mulher Trabalhadora na CUT Brasil, Junéia Batista, lembrou-se de que a CUT é a única central sindical a implementar a paridade e comentou sobre bandeiras que permanecem atuais. “A reivindicação por creche foi uma das primeiras campanhas que fizemos, mas que ainda precisa avançar. Depois fomos evoluindo aos poucos no debate sobre o aborto e a violência doméstica, física, econômica, institucional, entre outras que fomos identificando com o passar do tempo. Nesta ampla luta queremos empoderamento”.
Mesa: "Luta das Mulheres no Combate à Violência"
Com a participação de Rachel Moreno (psicóloga, pesquisadora e ambientalista), Denise Motta Dau (da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de São Paulo), Célia Passos (dirigente do Sindicato dos Químicos de SP e mediadora) e Nalu Faria (psicóloga, coordenadora geral da Sempreviva Organização Feminista)
Além de resgatar a importância do movimento feminista no Brasil, Nalu Faria, coordenadora da Sempre Viva, analisou vários aspectos da repressão: “O capitalismo reforça o machismo e o patriarcado. A violência é um mecanismo de controle e se modifica de acordo com a conjuntura”. Para ela, é fundamental a implantação de políticas públicas para defender os interesses das mulheres.
Raquel Moreno, psicóloga e pesquisadora, descreveu o início do trabalho de organização junto às metalúrgicas de SBC e abordou a mobilização contra a ditadura militar. “Nesse período, em 1979-1980, nós também lançamos o SOS Mulher para combater a violência de gênero. Era um trabalho importante e, de repente, passamos a receber denúncias de violência doméstica, assédio no transporte coletivo, assédio sexual no trabalho”. Ao reconhecer os avanços atuais, Raquel arremata com o slogan: “Nesses 30 anos de história: nenhum direito a menos!”
Denise Mota Dau, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de SP, pontuou os vários aspectos da conjuntura e destacou a importância da campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, uma mobilização anual que conta com a adesão de cerca de 160 países. E encerrou a Mesa com um alerta diante do governo golpista: “Não queremos retrocessos. Estamos diante de uma ameaça forte de perda dos direitos. Temos que ter o diálogo porque, sem o diálogo não há avanços. Pensar os programas de igualdade e inclusão social numa conjuntura de diálogo, faz toda a diferença”.
Mesa com Aula Magna: “30 anos da organização das mulheres na CUT-SP - história de luta, direitos e conquistas e a defesa da democracia”
Com a participação de Clara Ant (diretora do Instituto Lula), Vera Soares (pesquisadora e ativista sobre as relações de gênero-movimento de mulheres e mediadora), Didice Godinho Delgado (primeira coordenadora da Comissão Nacional sobre a Questão da Mulher Trabalhadora da CUT) e Ana Nice Martins (vereadora de SBC recém-eleita pelo PT)
Histórico
O 2º Congresso Nacional da CUT – realizado em 31 de julho a 3 de agosto de 1986 – aprovou a criação da Comissão Nacional sobre a Questão da Mulher Trabalhadora. Implantada em março de 1987, tornou-se em 2003 a Secretaria Nacional da Mulher Trabalhadora.
Redação: Elizete Moura Santos com informações CUT-SP
Fotos: Elizete Moura Santos e Dorival Elze