Diálogo social ainda é o maior desafio para redes sindicais
24 de Novembro de 2014
Internacional
Embora o diálogo social esteja bem mais próximo do dia a dia em redes sindicais em empresas multinacionais, nem todas as redes são reconhecidas...
Embora o diálogo social esteja bem mais próximo do dia a dia em redes sindicais em empresas multinacionais, nem todas as redes são reconhecidas pelas empresas. As condições de trabalho, a igualdade de salários e benefícios e maior transparência na troca de informações entre as plantas também são desafios permanentes em diferentes empresas instaladas no Brasil. É o que apontam representantes de 11 redes de trabalhadores e trabalhadoras em empresas multinacionais participantes do projeto Promoção dos Direitos Trabalhistas na América Latina, reunidos nesta segunda e terça-feira, 17 e 18,
“Além dos termos economicistas, um dos desafios das redes é incluir na pauta do diálogo social a questão da prevenção de acidentes, garantindo condições mais seguras no trabalho, assim como desenvolver mecanismos eficazes parao monitoramento das condições trabalhistas e ambientais em toda a cadeia produtiva”, afirma o secretário de relações internacionais da CNQ/CUT, Fábio Lins. “O diálogo social na rede Bayer, por exemplo,estendeu a todos os trabalhadores terceirizados o contrato coletivo negociado até então somente para os trabalhadores efetivos, permitindo os mesmos direitos sociais e as mesmas conquistas”, completa.
O encontro marca o fim da primeira fase do projeto, com foco na criação e no fortalecimento de redes sindicais em multinacionais alemãs atuantes no Brasil. Durante o seminário, os representantes das redes puderam trocar experiências entre si e conhecer um pouco da realidade na Alemanha, por meio de depoimentos de trabalhadores alemães convidados.
Confira, a seguir, o que dizem os representantes de cada uma das redes participantes:
“A rede tem sido pra gente uma ferramenta para igualar condições de trabalho, porque tudo o tentamos mudar, tem que seguir o que é decidido na Alemanha. Mas nos últimos anos, conseguimos muitos avanços. Antes não tínhamos muito acesso às lideranças da empresa, mas hoje já temos reuniões quinzenais com a empresa, com representantes de cada setor. Aos poucos, estamos tendo mais acesso para resolver problemas rotineiros.”
Jorge Luis Benedito de Jesus, coordenador da rede Leoni
“A rede permite esse intercâmbio com os companheiros da Alemanha e, assim, conseguimos potencializar nossas conquistas, podemos traçar objetivos e metas comuns a todos. Nossa rede tem oito anos e, nesse tempo, conseguimos muitos avanços. Hoje, a empresa nos respeita como rede, conversa mais com a gente, temos um diálogo social. O projeto e as capacitações que foram oferecidas nesses últimosanos favoreceram muito, porque conseguimos ter informação e conhecimento para dialogar.”
Júlio Cesar Martins, da rede ThyssenKrupp
“Hoje conseguimos ver a rede como uma ferramenta poderosa na organização dos trabalhadores e no diálogo com a empresa. Esse diálogo ainda está tímido, mas percebemos que a empresa não nos ignora mais. Com esse projeto, conseguimos nos capacitar para levar assuntos importantes para dentro da empresa, conseguimos nos comunicar melhor com os trabalhadores. Hoje divulgamos mais o que fazemos, temos boletins. Nossa rede ainda não foi reconhecida oficialmente pela empresa, mas estamos no caminho.”
Valdir Oliveira, coordenador da rede Weg
“A empresa ainda não reconheceu nossa rede, mas tem se mostrado mais aberta para nos receber e dialogar. Antes de formarmos a rede, as negociações eram individuais com cada sindicato. Hoje, a rede representa a todos. Aos poucos, conseguimos mais abertura na empresa.Até já realizamos seminários sobre saúde, segurança e meio ambiente que contou com palestra da própriaempresa. A rede tem facilitado muito esse processo.”
Marcondes Machado, coordenador da rede Braskem
“Desde que começamos no projeto, conseguimos conhecer a realidade que existe em outros sindicatos e conseguimos ter uma visão maior das negociações, inclusive tendo como base as negociações feitas na Alemanha. São experiências que nos ajudam a ver situações e a melhorar estratégias de negociação. Ainda não somos reconhecidos oficialmente pela empresa, mas o fato de estarmos organizados em rede tem ajudado no crescimento e no fortalecimento de nossas ações e para equilibrar as relações com a empresa.”
Eduardo Souza, da rede Linde
“Conseguimos abrir algumas portas na empresa desde que nos organizamos em rede, em especial com o RH. Começamos o sistema único de representação dos trabalhadores e iniciamos o diálogo social com a empresa. Apesar de não termos a participação de outros sindicatos, conseguimos estender nossas conquistas também para outras unidades. Essa visão, começamos a ter a partir das capacitações, que são muito esclarecedoras. Agorasabemos como organizar os trabalhadores, temos conhecimento sobre diálogo social e ação
Adão Nascimento
“Iniciamos a rede há três anos e, desde o começo, percebemos uma mudança na postura da empresa, que não resistiu em conversar com a gente. O diálogo social acontece com o setor jurídico e com o administrativo, o que quase não existia antes. Antes as negociações eram feitas com cada sindicato; hoje, a rede é quem representa e conversa diretamente com a empresa, e isso fortaleceu o sindicato. Ainda temos desafios, porque a empresa não está envolvida, mas ela já não se opõe.”
Cristina Maria de Jesus, coordenadora da rede Knauf
“Depois que realizamos nosso primeiro encontro da rede, conseguimos aumentar a troca de informações entre os trabalhadores químicos e metalúrgicos da Taurus e da CBC. Desde a fusão, a organização em rede ajudou a avançarmos. A empresa está percebendo que queremos saber o que acontece e informarmos corretamente os companheiros. A partir do que aprendemos ao longo desse projeto, conseguimos corrigir os problemas de comunicação que estávamos tendo na rede. Hoje, usamos ferramentas de comunicação instantânea que envolvem todas as plantas. Conseguimos mobilizar mais, nos comunicamos mais. Nosso desafio agora é alcançar as plantas da Alemanha e da República Tcheca. Com a rede, estamos conseguimos diminuir as desigualdades.”
Jorge Edemar Corrêa, coordenador da rede CBC/Taurus
“Temos apenas uma planta no Brasil, então, nosso desafio como rede é a aproximação maior com os alemães. Isso é necessário porque em todas as negociações que buscamos, temos a resposta de que as decisões devem vir a partir da matriz. Mesmo com esse desafio, estamos avançando bastante com a rede e temos aprendido bastante com essa experiência.”
Gerson Luis Oliveira de Mattos, coordenador da rede Stihl
“Vamos tentar o contato frequente para trocarmos informações com os companheiros brasileiros, inserir mais colegas da Alemanha e do Reino Unido nas trocas de e-mails com o Brasil. Pretendemos nos reunir no ano que vem com a cúpula do comitê da empresa, nossa executiva, pra termos um contato entre as grandes plantas. Nesta ocasião, devemos discutir os temas em comum, temos específicos, e nos apoiarmos mutuamente. Sei que é difícil para os colegas brasileiros o diálogo com a direção da Vallourec aqui, mas vamos nos esforçar em ajudar como pudermos.”
Karl Heinz Schmidt, conselheiro de fábrica da Vallourec/Mannesmann na Alemanha
Sobre o seminário
O seminário Redes e os desafios para a construção de um sindicalismo global marca o encerramento das atividades do projeto Promoção dos Direitos Trabalhistas na América Latina, gerido por CUT, Instituto Observatório Social, CNM/CUT e CNQ/CUT, e apoiado pelo centro de formação DGB Bildungswerk (DGB BW). Participam da atividade trabalhadores e trabalhadoras em empresas multinacionais dos ramos químico e metalúrgico, além de representantes de organizações internacionais ligadas ao mundo do trabalho e coordenadores de redes sindicais na Alemanha.
Desde 2011, o projeto busca a promoção e o fortalecimento de redes sindicais em empresas multinacionais alemãs atuantes no Brasil. Ao longo dos três anos de projeto, foram acompanhadas 11 redes sindicais em diferentes estágios de desenvolvimento – seis do ramo químico e cinco do ramo metalúrgico, todas com a expectativa de construção do diálogo social com as respectivas empresas. Neste período, foram alcançados cerca de 300 pessoas, entre trabalhadores, trabalhadoras e dirigentes sindicais, que passaram por formação, encontros para organização das redes e preparção para o diáologo social de forma ativa e qualificada.
Fonte e Fotos: IOS