Em palco emblemático, Dilma desmente Aécio e aponta 'incapacidade de gestão' tucana
21 de Outubro de 2014
Brasil
No teatro da PUC de São Paulo, presidenta explica responsabilidade do governo do estado pela falta de água e lembra que PSDB foi culpado por apagões....
No teatro da PUC de São Paulo, presidenta explica responsabilidade do governo do estado pela falta de água e lembra que PSDB foi culpado por apagões. Lula critica desrespeito de Aécio Neves
São Paulo – O Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o Tuca, foi palco na noite de ontem (20) de um ato político histórico, marcado pela euforia e pela confiança da militância petista, que, na última semana de campanha, já se acredita próxima de uma vitória de Dilma Rousseff, o que chegou a parecer improvável. Na companhia do ex-presidente Lula e de aliados do próprio partido, como o prefeito paulistano Fernando Haddad e o ex-candidato ao governo paulista Alexandre Padilha; do ex-presidente do PSB, Roberto Amaral; do ex-candidato do Psol ao governo de São Paulo, Gilberto Maringoni; do vice-presidente da República, o peemedebista Michel Temer; do economista e fundador do PSDB Luiz Carlos Bresser-Pereira; de artistas, intelectuais e milhares de pessoas que lotaram o histórico teatro e a rua Monte Alegre, na zona oeste da capital, a candidata do PT, Dilma Rousseff, fez um discurso veemente, que inflamou e emocionou a militância. O ato político foi tomado pela euforia com o anúncio, pelos microfones, pouco depois das 20 horas, de que pesquisas recém-divulgadas dão vantagem à candidata à reeleição, por 52% a 48%.
Dilma voltou a rebater as declarações do adversário tucano Aécio Neves, que tem tentado atribuir responsabilidades ao governo federal pela crise de falta de água em São Paulo, governado pelo tucano Geraldo Alckmin. Ela também criticou de maneira contundente a “incapacidade de gestão” do PSDB tanto na questão da água em 2014 como na do apagão elétrico de 2001 e 2002, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Atacou a política neoliberal tucana contra o emprego e a renda, e a visão de política externa tucana de "interesse dos Estados Unidos". Coube ao ex-presidente Lula falar da indignação pelo que chamou de “desrespeito” de Aécio Neves contra a presidenta na campanha e em debates na televisão.
“Quando eles (PSDB) foram governo, deixaram esse país às escuras, porque fizeram uma privatização maluca, olharam o país e não viram os interesses da população, mas os interesses de alguns poucos grupos econômicos. No caso da água, esta é a crônica de uma morte anunciada. Ninguém da imprensa hoje pode ficar surpreso pelo fato de estar faltando água em São Paulo”, disse. Segundo Dilma, a grave crise de abastecimento de água se deve à “incapacidade de gestão absolutamente às claras de um grupo político que pretende dirigir o país, que pretende, porque nós não vamos deixar”.
Dilma destacou a falta de planejamento do governo tucano no estado de São Paulo. “Aqui em São Paulo, mais uma vez, se mostram as consequências da visão contra o investimento planejado, que não tem responsabilidade com a questão pública do abastecimento fundamental para a população. A energia elétrica é um caso, a água é outro”, disse.
Além disso, ela apontou as responsabilidades dos níveis de poder no país, para deixar claro que a escassez de água em território paulista é responsabilidade do governo estadual. “Eu acho que essa é uma questão do final dessa campanha. Não há como confundir os fatos. A água é uma atribuição de estados e municípios. Não é atribuição constitucional da União”, lembrou.
A presidenta afirmou também que a maneira “irresponsável” com que os governos tucanos governam se reflete também na política de emprego. De acordo com ela, no período de 1995 a 2002, nos dois governos de FHC, “eles usaram um conceito chamado empregabilidade”. “(Para eles) Tem gente que tem empregabilidade, tem gente que não tem. É o maior álibi para uma política de destruição do emprego neste país.”
A política externa do programa de governo de Aécio Neves “é a velha política de se atrelar aos países desenvolvidos, nunca afirmando o Brasil como potência; querem voltar com a Alca e menosprezar o Mercosul e a América Latina”, enfatizou Dilma. “Não olham a importância dos Brics nem as relações que o Brasil diversificou. Eles pensam o Brasil pequeno.”
A candidata petista também criticou a “manipulação absolutamente irresponsável que fazem com o mercado de ações”. Desde agosto, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) tem oscilado ao sabor dos números das pesquisas eleitorais e dos fatos que marcam a eleição. Naquele mês, em que, no dia 13, morreu o então candidato do PSB Eduardo Campos, a Bovespa teve forte valorização de 9,78%.
Lula e ataques a Dilma
O ex-presidente Lula demonstrou indignação com a maneira como o tucano e seus aliados “tratam uma mulher”. “Eu achava que eu era o cara que mais apanhava no mundo. Eu achava que o ódio era comigo. Eu jamais teria a coragem, a petulância de chamá-la de leviana ou mentirosa, por mais que eu discordasse dela. Essas coisas a gente não aprende na universidade, a gente aprende de berço”, disse Lula. “Esse rapaz deve ter um problema que eu não vou explicar qual é porque não sei. Deve ter gente que pode explicar”, acrescentou, sobre Aécio.
Lula lembrou que o ódio ao PT é um dos elementos marcantes do processo eleitoral deste ano. “Eu nunca vi o ódio disseminado contra um partido político como o que eu vejo contra o PT. Um negócio que eu não via mesmo no tempo do regime militar. Não poderia imaginar que o neto do doutor Tancredo Neves fosse utilizar tanto ódio contra o PT. Porque ele (Aécio) fala que quer acabar com o PT, tirar o PT do governo. Eles não vão tirar porque o povo é mais sábio do que as pessoas imaginam. Houve um tempo em que a Globo falava e as pessoas achavam que era verdade. Isso acabou.”
O prefeito Fernando Haddad engrossou o coro de indignação contra os ataques tucanos a Dilma. “Eles imaginavam que ela não ia aguentar. Só que mexeram com a pessoa errada”, ressaltou. A ex-prefeita Marta Suplicy chamou a atenção para a importância dos próximos dias na luta pelos votos. “Estamos talvez no momento mais decisivo do nosso partido e talvez mais decisivo do nosso país.”
A disputa eleitoral tem sido marcada por agressões sistemáticas, morais e até físicas, de simpatizantes do candidato tucano contra militantes petistas e pessoas que usam símbolos do partido. Em 15 de junho, na abertura da Copa do Mundo, a presidenta da República foi vaiada e xingada na abertura da Copa do Mundo, na Arena Corinthians (Itaquerão), em São Paulo.
No palco do Tuca, a escritora e artista plástica Raquel Trindade fez discurso emocionado, no qual clamou pelo Estado laico, pela diversidade cultural e direito de culto. Ela contou que viveu um momento difícil quando da ascensão da ex-candidata Marina Silva (PSB) nas pesquisas. “Entraram no meu quintal e quebraram os assentos dos meus orixás. Todas as religiões têm de ser respeitadas. Nós vivemos num país laico”, declarou.
Segundo Dilma Rousseff, em 2014 “o confronto começou bem antes, num processo que misturava desinformação e a meia verdade” e se manifestou nos meses que antecederam a Copa do Mundo. “O nível de desqualificação do Brasil pela imprensa foi estarrecedor. O Lula falava ‘nunca antes na história deste país’. Eu uso estarrecedor, porque meu caso é de estarrecimento”, brincou, usando a palavra que tem marcado sua participação nos debates.
O jurista Celso Antonio Bandeira de Mello falou da inconsistência, a seu ver, da candidatura de Aécio . "Entre os dois candidatos, um deles é quase uma folha em branco, que não tem história pessoal."
O ex-candidato do Psol ao governo paulista, Gilberto Maringoni, discursou pelo apoio à candidatura petista ao Palácio do Planalto. “Tenho críticas ao governo, mas vou deixar para depois. Agora vamos falar do que nos une, especialmente porque do lado de lá está Aécio Neves, o neoliberalismo heavy metal. É uma escolha entre a democracia e o abismo”, disse Maringoni.
Apoteose
O ato político no teatro da PUC de São Paulo ocorreu em um lugar emblemático. A universidade foi palco do dramático episódio da invasão pelas forças policiais comandadas pelo coronel Antonio Erasmo Dias, então secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo, no governo de Paulo Egídio Martins, em 22 de setembro de 1977.
Naquele ano, o presidente da República era o general Ernesto Geisel, que a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, presidida pelo deputado Adriano Diogo, demonstrou ser o mais violento do regime militar, o que mais matou e torturou.
No final do evento, às 23h30, Dilma Rousseff saiu à sacada do prédio do Tuca, no primeiro andar, e foi ovacionada por milhares de pessoas de todas as idades que tomavam os jardins do teatro.
Ao final do ato, a multidão se dispersou pelas ruas do bairro de Perdizes. Os jovens caminhavam em grupos, empunhando bandeiras, forrados de adesivos nos corpos. Sorriam e brincavam como se tivessem vencido uma batalha.