Voltar

Energia e Sustentabilidades como catalisadores para a Reindustrialização da América Latina

25 de Janeiro de 2023

Macrossetor

Artigo | Lucineide Varjão

 
Reindustrializar o Brasil é um dos desafios centrais para a recuperação das múltiplas cicatrizes ainda vivas da história recente da política macroeconômica dos últimos anos. A tarefa consta nos compromissos para o Governo do Presidente Lula e deve estar entre os pilares da pauta de reivindicação do Movimento Sindical, que, diante da ampla coalizão formada para a derrota do bolsonarismo, não lutará em terreno pacificado.
 
O Macrossetor da Indústria da CUT, junto ao TID-Brasil e à IndustriALL, traçou propostas detalhadas, aliando a retomada do crescimento econômico com o olhar social e o viés da sustentabilidade.
 
Sabemos que a discussão da Transição Justa é complexa e, para ela, não há soluções simplórias. Contudo, o Brasil dispõe de importante ferramenta para, por meio de políticas articuladas pelo Estado, colocar-se como ator relevante e competitivo no cenário global, liderando um movimento regional no qual a América Latina deve ser apresentada como celeiro para o desenvolvimento industrial.
 
É claro que o principal atrativo não devem ser as fórmulas ultraneoliberais fracassadas, que tentam vender a precarização das relações de trabalho como falsa receita para baratear o processo produtivo. Pelo contrário: a geração de empregos com qualidade e direitos é uma das metas a ser perseguida pela reindustrialização.
No momento em que a priorização da pauta climática é irreversível e o Brasil volta a liderar este debate, após anos de vergonha e ostracismo, a oferta de energia limpa tem que ser encarada como grande trunfo. 
 
Enquanto a China depende, em 60%, do carvão; esse tipo de produção corresponde a 2,3% no Brasil. Além das fontes hidrelétricas, majoritariamente utilizadas por aqui, são grandes as perspectivas para o impulsionamento das captações solar e eólica.
 
A empreitada, contudo, só terá êxito se acompanhada de outras tarefas, como a observação da política de custos da energia. Levantamento do setor patronal, com dados de 2020, aponta que o custo em dólar por MWh consumido pela indústria brasileira é maior do que em países como a Índia (19%), Coreia do Sul (42%), China (46,6%) e Estados Unidos (91,3%).
 
O custo médio da mão de obra, por outro lado, praticamente se equivale ao da China (US$ 7,00 por hora x US$ 6,00 por hora), com considerável vantagem para o Brasil em relação aos Estados Unidos (US$ 25,00) e à Coréia do Sul (US$ 23,00).
 
Boa vontade e diagnósticos preliminares para a aposta na energia renovável como propaganda do País para o mundo parecem já existir, pelo que se extraiu de pronunciamentos do Ministro da Economia, Fernando Haddad, que mencionou ainda a necessidade de articulação regional latino-americana. Gestos da mesma natureza também vêm sendo dados pelo Presidente da República, que iniciou as viagens internacionais do mandato com agenda na Argentina.
O Movimento Sindical, por meio da IndustriALL Global Union, se colocará como agente facilitador para contribuir e pressionar nesse sentido.
 
Lucineide Varjão
Vice-Presidente da IndustriALL Global Union* | América Latina e Caribe
Secretária de Relações Internacionais CNQ-CUT
 
 
*A IndustriALL Global Union representa 51 milhões de trabalhadoras e trabalhadores de 140 países. A organização foi fundada em 2012, a partir da fusão de três sindicatos globais que representavam os ramos químico (ICEM), metalúrgico (FITIM) e têxtil/vestuário/couro (ITGLWF). No Brasil, são afiliadas à IndustriALL organizações sindicais dos ramos químico, metalúrgico e do vestuário, da CUT e da Força Sindical.