Entenda o que está em jogo com as MPs da mineração de Temer
02 de Agosto de 2017
Minérios
Presidente ilegítimo Michel Temer anunciou três medidas provisórias (MPs) que mudarão 23 artigos do Código da Mineração
Artigo de Jackson Dias - Movimento dos Atingidos por Barragens
Na última terça-feira (25), o presidente ilegítimo Michel Temer anunciou três medidas provisórias (MPs) que mudarão 23 artigos do Código da Mineração.
A MP nº 789 altera a base de cobrança dos royalties. Antes a cobrança era de acordo com uma determinada alíquota (porcentagem) do faturamento líquido e agora passa a ser cobrado de acordo com o faturamento bruto. Além disso as alíquotas de vários minerais sofreram mudança, como é o caso do ouro que mudou de 1% para 2% e do minério de ferro que poderá chegar até 4% (dependendo do valor da tonelada do minério no mercado internacional).
A MP nº790 realizou diversas mudanças do código da mineração; entre elas, autorizou as empresas a extraírem substâncias minerais antes da outorga da concessão de lavra.
A MP nº791 criou a Agência Nacional de Mineração (ANM), que substituirá o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). A justificativa do governo foi que a criação da nova agência irá trazer segurança jurídica para o setor mineral.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) compreende que:
Essas medidas do governo golpista são para entregar áreas de grande biodiversidade e base natural vantajosa para grandes grupos privados e transnacionais da mineração.
O papel da ANM será o mesmo da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), ou seja, servirá aos interesses dos grupos privados em detrimento aos atingidos por esses grandes projetos e do povo brasileiro.
O aumento do recolhimento dos royalties por parte dos governos não seria aceito pelos capitalistas (que bancam a permanência de Temer no governo) se não houvesse algo em troca. E a troca que o governo fará é entregar cerca de 20 mil novas áreas para a mineração privada, sobretudo para empresas transnacionais.
Temer rifará 20 mil áreas para grandes empresas privadas
Desde a privatização da Vale de 1997, a mineração no Brasil é realizada pelo setor privado e, em muitos os casos, por empresas de outros países (transnacionais). Diante disso, todo o subsolo, que pertence à União (de acordo com a Constituição), foi rifado ao setor privado, que tem como única responsabilidade a prestação de contas aos acionistas.
Agora, com a retomada do pensamento entreguista (privatização), o governo Temer pretende disponibilizar cerca de 20 mil novas áreas para as empresas de mineração até o fim do ano. Outras 8,8 mil áreas estão com procedimento de disponibilidade em curso.
A pretensão de entregar essa grande quantidade de terra e minérios já pode ser comparada ao período do neoliberalismo do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). De acordo com o levantamento do DNPM, no segundo mandato de FHC (1999-2002) a média foi de 17.317 áreas por ano. O ápice foi no ano 2000, quando o governo disponibilizou 35.616 áreas para a mineração. Em comparação, no governo Dilma (2011-2016), foram disponibilizadas uma média de 4.886 áreas por ano; no período do governo Lula (2003-2010) a média anual foi de 10.176 áreas disponibilizadas.
Além da entrega de novas áreas para a mineração privada, a perspectiva é aumentar cada vez mais a concentração da base natural vantajosa (recursos minerais) nas garras dos grandes grupos estrangeiros.
Antes para adquirir essas áreas disponíveis, o DNPM analisava a melhor proposta técnica – o que, inclusive, não foi suficiente para evitar o crime da Samarco na bacia do rio Doce - mas agora o critério de julgamento é o maior valor ofertado. Assim, as grandes empresas estrangeiras terão prioridade, pois terão mais condições financeiras para ofertar o maior valor pelas áreas disponíveis. Além disso, certamente esse será um fator para reduzir a segurança e aumentar o impacto ao meio ambiente desses empreendimentos.
Na prática, essas mudanças irão multiplicar posturas como a da Vale e BHP Billiton que criaram a Samarco (nome fantasia) para se esconderem por trás da acumulação primitiva e predatória que matou a bacia do Rio Doce, de Mariana (MG) a Regência (ES).
Essa mudança profunda do Código da Mineração está dentro da cartilha de privatização (afronte à soberania nacional) do governo golpista, bem como estão a PEC do congelamento de investimento por 20 anos, a reforma trabalhista, a entrega dos campos dos pré-sal para os estrangeiros e o fim da previdência.
Além da luta contra a entrega dos recursos minerais, não podemos perder de vista a luta geral pelo Fora Temer e Diretas Já. Para além disso, é necessário construirmos um Projeto Popular para o Brasil com os elementos da Soberania, Distribuição da Riqueza e Controle Popular.
Fonte: Jornal Brasil de Fato