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Falta de água é o “choque de gestão” do PSDB em São Paulo

06 de Junho de 2014

Brasil

  Cerca de 1 mil manifestantes foram às ruas da capital nesta quinta (5) denunciar a ausência de investimentos do governo estadual e o...

ato crise agua CUT SP Foto Flaviana Serafim 2

 

Cerca de 1 mil manifestantes foram às ruas da capital nesta quinta (5) denunciar a ausência de 
investimentos do governo estadual e o sucateamento dos serviços públicos

 

Os movimentos sindical, social e estudantil reuniram cerca de 1.000 manifestantes na manhã desta quinta (05) num ato público contra a crise da água, esclarecendo a população de que a causa real do problema é a ausência de investimentos do governo estadual do PSDB.

 

A atividade ocorreu na Praça Vitor Civita, em Pinheiros, zona oeste da capital, com caminhada até a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), na Rua Costa Carvalho, onde, com o mote #vaiterCopa, o que não vai é ter água, dirigentes e lideranças dos movimentos foram unânimes em seus discursos: a situação tende a piorar, pois não há previsão de chuvas, nem obras e serviços que, num curto ou médio prazo, tenham condições de resolver a gestão dos recursos hídricos.

 

Outro ponto de convergência foi a crítica à falácia da tão propagada ‘eficiência’ e o ‘choque de gestão’ do PSDB, desmontada pela péssima administração também em outras áreas como o transporte público, segurança, educação e saúde.

 

O ato público foi realizado numa parceria entre a CUT e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Levante Popular da Juventude, União Nacional dos Estudantes (UNE), Marcha Mundial de Mulheres e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre outras entidades. A batucada Carlos Marighella, conduzida por jovens do Levante, marcou a percussão e as ruas foram tomadas pelo vermelho das bandeiras e o verde e amarelo nas camisetas da CUT São Paulo em alusão à Copa.

 

Representantes dos movimentos pretendiam entregar um documento cobrando medidas do secretário estadual de Recursos Hídricos, Mauro Arce, mas o governo estadual recusou e se limitou a agendar uma reunião para o próximo dia 2 de julho.

 

Além da capital e municípios da área metropolitana de São Paulo, a falta de água atinge a região de Campinas, afetando diretamente cerca de 25 milhões de pessoas, ou 62,5% do total de 40 milhões de habitantes do estado mais rico do Brasil.

 

Emprego e economia em risco - Para o presidente da CUT São Paulo, Adi dos Santos Lima, a falta de abastecimento de água nas residências é grave, mas não é a única preocupação da Central. “Também estamos preocupados com a falta de abastecimento nas empresas, pois várias já estão dando licença remunerada aos funcionários porque a contratação de caminhões-pipa para a produção é onerosa. A crise pode também causar fuga de indústrias e, o que é pior, desemprego”.

 

O grande problema, segundo Adi, é o modelo de gestão que o governo de São Paulo vem imprimindo no estado, que não valoriza o funcionalismo público e não implanta políticas públicas. “Em vez de investir em tecnologia e nos seus próprios funcionários, o governador Alckmin prefere entregar para a iniciativa privada aquilo que é de sua responsabilidade”, denunciou.

 

A previsão é de que, no Sistema Cantareira, acabará em novembro o volume morto, que é a água estocada abaixo do nível de captação das comportas. Num cenário otimista - com o qual só a Sabesp conta – esse recurso vai durar até março de 2015, contradizendo as previsões meteorológicas que apontam baixíssimo volume de chuva no próximo período.

 

Vagner Freitas, presidente nacional da CUT, ressaltou a estagnação que a economia paulista vem sofrendo há 20 anos com o descaso do tucanato, que fez com que o estado, que já foi a locomotiva do país, seja hoje uma vergonha nacional. Ele também criticou duramente a postura de Alckmin pelo não investimento de recursos enviados pelo governo federal, já que São Paulo foi a federação que mais recebeu dinheiro do PAC para projetos de saneamento básico.

 

“É um governador que confunde luta política com representação da população e pune o povo com a falta de água por conta de uma disputa pequena, tacanha. Governar é uma obrigação com a população. Não podemos parar o Brasil e transformá-lo num campo de guerra por causa de uma eleição”, disse Freitas.


Gentil Teixeira de Freitas, secretário de Energia Elétrica da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Estado de São Paulo (Ftiuesp), recordou que, no racionamento de energia em 2001, o PSDB pôs a culpa em ‘São Pedro’. “Os tucanos não investiram no país naquele período e a situação em São Paulo é semelhante”.


Caos anunciado - “Todo esse sistema de abastecimento sempre trabalhou no limite e qualquer evento não previsto, como a falta de chuva e as altas temperaturas do verão, poderiam causar o caos que está acontecendo agora”, afirmou Edson Aparecido da Silva, assessor da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU) e coordenador da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental.

 

Ele lembrou que o governo paulista é alertado há 10 anos para os riscos desse problema e explicou que, agora, não basta investir em obras, pois são necessárias também ações estruturantes para redução de perdas, que chegam a 35% na distribuição de água segundo a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp).

 

“A responsabilidade por essa escassez é do governo estadual do PSDB, assim como a enorme quantidade de vazamentos e a falta de manutenção. Não houve sequer substituição das tubulações, todas velhas, e, o mais grave, ainda há tubos de amianto, substância cancerígena, levando água para a população”, destacou o deputado Marcos Martins (PT), representando a Assembleia Legislativa paulista.

 

Água como mercadoria – Arthur Miranda, vice-presidente da UNE, ressaltou que o movimento se juntou aos trabalhadores/as para denunciar a falta de compromisso com a população. “Alckmin esconde o rodízio no abastecimento por razões eleitoreiras e essa política falida se reflete em outras áreas, como nas universidades públicas cada vez mais sucateadas”.

 

Para Gilberto Cervinski, da coordenação do MAB, a questão “é uma luta estratégia pela água pública, pois em São Paulo a escassez é resultado do processo de privatização da Sabesp, no qual a prioridade do governo do PSDB foi a lucratividade e a remessa aos acionistas da companhia”. O governo Alckmin é acionista majoritário da Sabesp, com 50,3% das ações, e é o maior beneficiado com os lucros que chegam a R$ 2 bilhões anuais.

 

Sonia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres, relatou a lida diária feminina diante dos transtornos causados pela falta de água. “O problema atinge principalmente as mulheres mais pobres, que têm que acordar de madrugada para encher a máquina de lavar e o tangue para ter água no dia seguinte. É momento de dar um basta nessa gestão que não investe em creches, nem no combate à violência contra a mulher. É como se São Paulo não tivesse governo estadual”.

 

“Essa crise é mais uma expressão da forma como o governo estadual trata direitos como mercadoria e é fundamental lutarmos contra isso. É uma gestão que insiste em não construir um processo de investimento público e com debate social sobre algo tão elementar como a água”, destacou Lira Alli, do Levante Popular da Juventude.

 

Além dos movimentos social e estudantil, o ato contou com a participação de diversos sindicatos filiados à CUT/SP nos ramos da alimentação; financeiro; metalúrgico; químico; urbanitário; transporte; serviço público estadual e municipal; educação e saúde, entre outros.