Indignado, Lula desafia Ministério Público a provar os crimes pelo qual é acusado
15 de Setembro de 2016
Brasil
Para o ex-presidente, o que desperta a ira de parcelas do país é a inclusão do povo pobre no orçamento do país
“Eu não vou fazer um show de pirotecnia, não quero me comportar como um cara perseguido ou como se estivesse reivindicando algum favor. Esta é uma declaração de um cidadão indignado. Não de um político, é um cidadão indignado com as coisas que aconteceram e estão acontecendo no Brasil”, declarou o ex-presidente Lula em coletiva realizada na tarde desta quinta-feira, 15, em São Paulo, um dia após os procuradores da República Daltan Dallagnol e Henrique Pozzobon acusá-lo de comandar um esquema de corrupção na Petrobrás.
No dia anterior (14), em entrevista coletiva, os procuradores da República Daltan Dallagnol e Henrique Pozzobon acusaram Lula de chefe máximo do “petróleo”, porém, o próprio procurador Dallagnol admitiu que baseou sua acusação mais em convicção do que em provas materiais. “Não temos provas, mas temos convicção”, disse Dallagnol.
Em seu pronunciamento, o ex-presidente, fortemente emocionado, afirmou sua inocência, disse que acredita nas instituições e que prestaria quantos depoimentos "forem necessários". "Eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida nesse país. Pouca gente neste país teve sua vida pública mais fiscalizada do que a minha. Isso desde o tempo em que eu era dirigente sindical nas greves de 1968 e 1969. Provem uma corrupção minha, que eu irei a pé para ser preso", disse.
Lula lembrou também que tentaram fazer com ele, em 2005, no chamado processo do “mensalão”, o que fizeram durante o processo de impeachment da presidenta Dilma:
“Convocaram uma coletiva para mostrar o crime que o Lula cometeu. Até pensei em ir para a China me esconder, será que esqueci de algum crime que teria cometido? E descobri que tanto meus acusadores, quanto parte da imprensa brasileira estão mais enrascados e mais comprometidos do que pensavam que eu estava. Porque construíram uma mentira, uma inverdade e o prazo está chegando ao fim. Já cassaram Cunha, já elegeram Temer pela via indireta, pelo golpe, já derrubaram Dilma. Agora tem que definir um mocinho e um bandido, dar um desfecho, acabar com vida política de Lula”.
“A lógica (das investigações) não é mais a dos autos do processo, é a da manchete dos jornais. Quem vamos criminalizar pela manchete, quem vamos demonizar? E está acontecendo isso desde 2005. O PT é tido como partido que tem de ser extirpado da história brasileira. Assim fizeram com a Dilma e assim querem fazer comigo”, afirmou.
Para exemplificar a seletividade da Justiça e os atos arbitrários que vem ocorrendo no país, Lula citou o caso do helicóptero com 400 quilos de cocaína do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG) apreendido em 2013.
“Eles pegaram um avião com 450 quilos de pasta de cocaína. Eles viram o avião. Eles pegaram a cocaína. Eles tinham a prova, mas eles não tinham a convicção", comentou, em alusão à já classifica frase do procurador Dallagnol. “O tratamento de uma parcela da mídia brasileira e do poder Judiciário agiu do mesmo jeito. Faz pouco tempo, quem viveu aquele período sabe que o objetivo em 2005 era tirar o Lula”.
Com discurso afiado, o ex-presidente foi direto ao ponto: “Eles pensam que se tirarem o Lula, tudo está resolvido. Pelo contrário, eles vão ter problema com o golpe que deram, com o que querem tirar do povo trabalhador, de tentar entregar nosso patrimônio às multinacionais, nosso pré-sal, nossa Petrobrás”, criticou. “Assim, não precisa governar, é só colocar um vendedor”. E ainda citou os movimentos de ocupações de escolas em São Paulo e os recentes protestos contra Michel Temer e a favor de novas eleições.
"Não se preocupem com o Lula. Isso é bobagem. Essa meninada que proibiu o (governador) Geraldo Alckmin de fechar escola em São Paulo, essa meninada que está indo pra rua reivindicar democracia e mais educação, essa meninada é um Lula de 71 anos multiplicado por milhões de Lulas jovens nesse país", pediu.
Apoio das ruas
Do lado de fora do hotel onde Lula fez seu pronunciamento, centenas de militantes se apinhavam na expectativa de ver o ex-presidente e manifestar apoio. Bandeiras de movimentos sociais se misturavam com as do PT. Por ali, passaram diversas lideranças políticas que foram acompanhar o pronunciamento do petista.
Logo após encerrar seu pronunciamento, Lula saiu para saldar a militância e foi ovacionado pelas centenas de pessoas. O ex-presidente precisou do auxílio de uma escada móvel para conseguir enxergar todos e agradecer o apoio.
Assista a coletiva completa AQUI