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Livro lançado no Congresso da CNQ-CUT revela o perfil do trabalhador químico

08 de Julho de 2013

Cultura

      Lições de um intelectual orgânico dos Químicos do ABC   * Por Thomaz Ferreira Jensen   É na vasta obra de Antonio Gramsci...

 

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Lições de um intelectual orgânico

dos Químicos do ABC

 

* Por Thomaz Ferreira Jensen

 

É na vasta obra de Antonio Gramsci, jornalista e militante comunista italiano (1891-1937), que encontramos o conceito de “intelectual orgânico”, preciso para qualificar a importância do autor da obra que aqui resenhamos.

Para Gramsci, ao tratar do papel dos intelectuais da classe operária, a luta é no sentido de afirmar um novo intelectual, não mais afastado do mundo produtivo ou encharcado de retórica abstrata, como são os intelectuais tradicionais, mas capaz de ser, simultaneamente, especialista e político. Em outras palavras, capaz de exercer uma função dirigente no novo bloco histórico em busca da hegemonia operária na sociedade.

Remígio Todeschini, trabalhador químico, ex-presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, e autor do livro “Os Trabalhadores Químicos no Brasil no Século XXI”, traduz à perfeição o conceito de Gramsci.

Sua trajetória militante inicia-se ainda sob a ditadura civil-militar (1964-1985), quando trabalhava na Oxiteno do Grupo Ultra – corporação que foi articuladora e financiadora de primeira hora da OBAN (Operação Bandeirantes), centro de investigações e torturas montado pelo Exército brasileiro em 1969 para combater organizações de esquerda que confrontavam o regime ditatorial e laboratório que geraria, pouco tempo depois, o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação do Centro de Operações de Defesa Interna) que assassinou, entre muitos outros, Olavo Hanssen, operário químico.

Remígio atuou decisivamente para a retomada do Sindicato dos Químicos do ABC para os trabalhadores, em 1982, encerrando os anos de peleguismo e submissão aos generais de plantão e às empresas. Exerceu dois mandatos como presidente do Sindicato, entre 1991 e 1996, período em que se formaram importantes lideranças sindicais no ramo químico e em que se estruturou um modelo de ação sindical desde as organizações nos locais de trabalho. Foi destacado dirigente nacional da CUT e trabalhou no Governo Federal a partir de 2003 nas áreas de saúde do trabalhador, as mesmas em que se notabilizou como militante sindical e, sistematizando anos de luta sindical, formulador de políticas públicas, primeiro no Ministério do Trabalho e Emprego e posteriormente no Ministério da Previdência Social.

Autor de outros livros e artigos, Remígio lançou “Os Trabalhadores Químicos no Brasil no Século XXI” durante o Congresso da CNQ-CUT, em 2 de julho deste ano. A publicação foi elaborada a partir dos resultados de sua pesquisa realizada no Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB) e foi editada pela Editora LTr, com apoio do Conselho Nacional do SESI e do Sindicato dos Químicos do ABC.

Apoiada em vasta e original sistematização de dados estatísticos, Remígio oferece aos leitores excelente sistematização de informações que traçam um perfil dos trabalhadores no ramo químico brasileiro na primeira década do século XXI. Meticulosamente compilados, os dados exigem estudo e análise de todos e todas interessados em conhecer e atuar para melhorar as condições de trabalho e emprego no vasto ramo químico, da extração mineral ao comércio de produtos químicos.

Capa Livro Químicos 2Ao definir o escopo dos trabalhadores que analisa em sua pesquisa, Remígio inclusive supera os limites corporativos da própria representação sindical, compreendendo que é necessária uma abordagem completa da cadeia de extração, produção e comercialização de químicos para que os desdobramentos de ação sindical sejam também mais eficazes e completos.

Com mais esta obra, Remígio oferece, além de excelente contribuição ao estudo da realidade concreta dos trabalhadores do ramo químico, uma lição ainda mais importante e que se depreende de sua trajetória militante: todo trabalhador, toda trabalhadora são intelectuais orgânicos em potencial. Devem ousar se constituir em militantes que refletem criticamente sobre suas condições de trabalho, de organização sindical e de luta pelos direitos da cidadania.

Às organizações sindicais que se querem dignas de filiar-se às mais belas e combativas histórias de luta da classe trabalhadora internacional, cumpre ser espaço privilegiado para acolher e cultivar a formação crítica destas lideranças do futuro, escutando permanentemente os trabalhadores, estruturando a ação sindical a partir dos locais de trabalho, atualizando seus processos formativos em sintonia com os desafios trazidos pelas aspirações da categoria e pelas novas tecnologias e processos produtivos e alargando os horizontes políticos e econômicos da categoria, ao projetar e vincular as ações sindicais a um futuro emancipador para a classe trabalhadora.

 

Thomaz Ferreira Jensen é economista do DIEESE - subseção do Sindicato dos Químicos do ABC

 

 

 

Fotos: Dino Santos/Sindicato Químicos ABC