Maior campo de petróleo já descoberto, Libra vai a leilão e FUP explica porque é contra
19 de Outubro de 2013
Brasil
Para federação, governo brasileiro erra ao não considerar petróleo estratégico para as próximas décadas Na próxima segunda-feira...
Na próxima segunda-feira (21), o governo brasileiro promove o leilão do campo de Libra, no Rio de Janeiro, o primeiro após a descoberta do pré-sal.
A área que fica a 183 km da costa carioca será disputada por empresas de 10 nacionalidades: as chinesas CNOOC International Limited e China National Petroleum Corporation-CNPC, a colombiana Ecopetrol, a japonesa Mitsui & CO, a indiana ONBC Videsh, a portuguesa Petroga, a malasiana Petronas, a híspano-chinesa Respsol/Sinopec, a anglo-holandesa Shell, além da própria Petrobras.
Segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o campo tem capacidade de produção entre 12 e 15 bilhões de barris de petróleo, o equivalente a toda a reserva nacional – em torno de 14 bilhões – e renderia mais de dois trilhões de dólares ao país.
Diante de tamanho potencial, a FUP (Federação Única dos Petroleiros) comanda uma mobilização para suspender a licitação e cobrar que a riqueza fique em território nacional. Como parte da mobilização, iniciou uma greve por tempo indeterminado no último dia 16, que atinge 90% de todo o sistema Petrobras.
“A realização deste leilão é descabida e o governo deveria ter utilizado o artigo 12 da Lei da Partilha nº 12.351, de 2010, aprovada pelo presidente Lula, que deixa claro: todas as vezes em que houver risco ao interesse da nação e à política energética, o governo poderá contratar a Petrobras sem necessidade de leilão”, afirma o presidente da FUP, João Antônio Moraes, em vídeo gravado para o portal da entidade.
O dirigente refere-se a uma lei aprovada durante o governo do ex-presidente Lula e que vale exclusivamente para a exploração do pré-sal. A legislação altera o antigo modelo de concessão, de Fernando Henrique Cardoso (FHC), em que as empresas vencedoras tinham a propriedade do petróleo e do gás natural extraídos, para um sistema de partilha em que a União é a dona do petróleo e recebe da empresa vencedora parte da produção, já sem os custos. A Petrobras terá participação mínima de 30% no consórcio vencedor.
O ganhador do leilão ainda terá de pagar R$ 15 bilhões de bônus por um contrato de exploração da área de 35 anos, que podem ser prorrogados.
Moraes destaca também que a experiência de quebra do monopólio por parte do governo tucano de FHC e a entrada de empresas estrangeiras no país trouxe prejuízos para a economia.
“Trinta empresas estrangeiras operam nos campos graças às onze rodadas de leilões anteriores. Esses grupos, ao contrário da Petrobras, não fazem compras de material no país e não investem na cadeia produtiva do petróleo como um todo para gerar emprego e renda, tanto na aquisição de navios e plataformas, quanto de petroquímicos e derivados plásticos. Apenas se apropriam da nossa riqueza. Se foi assim até aqui, por que mais uma rodada?”, questiona.
Para o diretor da secretaria de Seguridade Social e Políticas Sociais da FUP, Paulo César Martin, nem mesmo uma possível justificativa de falta de capacidade financeira para exploração é justificável.
“A partir do momento em que a Petrobras se torna a única empresa a operar o pré-sal, as ações sobem e aumentam o capital. Além de abrir linha de crédito para o Brasil em qualquer lugar do mundo. E se a Petrobras detém a tecnologia de extração, sem depender de qualquer outra empresa, não precisa fazer leilão”, defende.
Para o dirigente, o governo brasileiro adota uma visão equivocada de que este recurso não será estratégico nas próximas décadas.
“O governo acredita que o petróleo não terá papel central nos próximos anos, como tem agora, então, avalia que, quanto mais cedo tirar da terra e explorar, melhor. Porém, ao menos nos próximos 50 anos, será fundamental para as áreas de energia e petroquímica. Por exemplo, se hoje a indústria automobilística deixasse de produzir um motor de combustão interna, levaria 15 anos para ser substituído por outro que não utilizasse derivado de petróleo”, aponta.
Batalha jurídica – Em paralelo à greve, a FUP e seus sindicatos ingressaram com ações populares na Justiça Federal para suspender o leilão por conta do ataque aos interesses nacionais.
O professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP e ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, e o jurista Fábio Konder Comparato, além da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet) também protocolaram ações populares contra o leilão.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil e www.youtube.com
Assista o vídeo elaborado pela TV CUT. O programa mostra os riscos dos leilões à economia e soberania nacional e os prejuízos à classe trabalhadora. Confira os depoimentos de João Antônio de Moraes, coordenador da FUP; Lucineide Varjão Soares, presidenta da CNQ-CUT; Itamar Rodrigues Sanches, secretário-geral da CNQ-CUT.
Clique no link:
http://tv.cut.org.br/programa/807/cut-em-acao-28-os-leiloes-do-petroleo
Lucineide Varjão Soares, presidenta da CNQ-CUT, explica
porque a Confederação defende a campanha da FUP
João Antônio de Moraes, coordenador da FUP, mostra a importância da luta nacional
Itamar Rodrigues Sanches, secretário-geral da CNQ-CUT, destaca
o que está em disputa com os leilões de petróleo
Dieese divulga nota técnica sobre o leilão de Libra
O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou nesta sexta-feira, 18, Nota Técnica sobre os impactos do leilão do campo de Libra, que está previsto para acontecer na segunda-feira, 21. Intitulado "Os modelos de exploração de petróleo no Brasil e as questões relacionadas ao surgimento do pré-sal: o debate sobre o Campo de Libra", o documento do Dieese analisa as características do regime de partilha de produção na exploração do pré-sal e os impactos da Lei nº 12.351/10 especificamente em relação a Libra.
"Mesmo considerando a emergência de energias alternativas (gás de xisto, energia solar etc.) e a manutenção do preço do petróleo, a produção do pré-sal tende a ser eficiente no longo prazo, ou seja, não parece haver a necessidade de se acelerar a exploração desses recursos", destaca a Nota Técnica. "Muito além de um debate de especialistas, uma vez que as opções não são neutras e afetam a todos, no presente e, principalmente, no futuro, as possibilidades de mudanças na qualidade de vida do povo brasileiro que se colocam com a exploração dessas imensas riquezas são enormes e podem ser determinantes na definição de políticas sociais, por exemplo", ressalta o Dieese.
Leia a íntegra do estudo do Dieese (clique aqui).