Não me entrego nunca, diz Dilma. Volta querida, responde plateia
12 de Julho de 2016
Brasil
Presidenta teve recepção calorosa em ato político realizado por mulheres em São Paulo. Atividade foi breve e repleta de manifestações artísticas
Foi uma festa o ato das Mulheres em Defesa de Dilma e da Democracia, no final desta sexta, em São Paulo. Como uma resposta ao desprezo que o presidente ilegítimo tem demonstrado por tantos valores, como a cultura, a chegada da presidenta eleita à Casa de Portugal, no bairro paulista da Liberdade, foi antecedida de shows de rap, música eletrônica, música de protesto, muito batuque e dança. Os discursos longos e inflamados, comuns a este tipo de atividade política dos movimentos sociais, cederam espaço a expressões de arte, próprias às celebrações.
A cineasta Tata Amaral acabou por resumir o clima do ato, quando foi uma das primeiras mulheres a falar no palco: "Nesses últimos 13 anos, a cultura nunca teve tanto espaço no Brasil. E em todas as suas manifestações, de maneira descentralizada, do Oiapoque ao Chuí".
A entrada de Dilma no palco, ocupado apenas por lideranças mulheres, fez rufar os tambores, literalmente. As baterias da UJS e do Levante Popular, que mostravam entusiasmo especial quando eram citadas lideranças dos partidos a que são ligados, deixaram as preferências clubísticas de lado e não pouparam esforços para saudar a presidenta.
Ela surgiu diante da plateia exatamente às 18h35.
Seguiram-se oito minutos de aplausos, música e o coro de "Volta Querida".
Houve, sim, em seguida, os tradicionais discursos que desafiam a equalização do sistema de som. Porém, em sintonia com o formato renovador do ato, foram discursos mais breves, menos numerosos e de conteúdo diferenciado uns dos outros, sem a repetição de abordagens.
Carmen Foro, vice-presidente da CUT, destacou que embora as mulheres e a juventude tenham menos espaços de poder político, conseguem realizar política na prática, e a própria organização do ato desta sexta é um exemplo dessa força, segundo ela.
Falando em nome do PT, a dirigente nacional Mônica Valente afirmou: "Temos a responsabilidade de somar esforços para trazer Dilma de volta para onde nunca deveria ter saído. Se não fizermos isso, colocaremos o futuro do país em risco", em referência às propostas de retirada de direitos e de desmonte de programas sociais do governo golpista.
Abraçada pela militância, Dilma viveu momentos de estrela, bem distante do que poderiam supor os que querem seu afastamento definitivo.
Dilma denunciou o golpe como uma expressão do machismo. Provocou: "Querem que a gente seja bela, recatada e do lar..." Foi interrompida pelo coro: "Que lar que nada, a mulherada tá na rua pra lutar".
A presidenta eleita afirmou que o golpe se caracteriza também como a tentativa de implantar medidas que "jamais seriam eleitas pelas urnas". Citou como exemplos a proposta de jornada semanal de 80 horas, feita nesta sexta pela CNI, e os cortes no Minha Casa Minha Vida. "É uma desfaçatez e cara de pau", classificou.
Demonstrando bom humor e num discurso breve, garantiu: "Eu não me entrego nunca". A plateia foi ao delírio e repetiu algumas vezes, em uníssono: "Volta, Querida". Dilma não fez nenhuma menção a medidas ou estratégias para garantir a derrubada do processo de impeachment no Senado. O ato se encerrou às 19h27.