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No Brasil a terceirização é usada para precarizar, afirma Patrícia Pelatieri

12 de Setembro de 2017

Trabalho

Realidade desmascara “estudo otimista” da grande mídia

A coordenadora de pesquisas e tecnologia do Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), Patrícia Pelatieri (foto) foi categórica ao afirmar, em reportagem do Portal Vermelho, que trabalhadores terceirizados têm condições de trabalho pior dos que os contratados diretamente pela empresa.

Estudo publicado na grande imprensa na última semana sustenta que a terceirização “não derruba salário”.

Segundo a consultora do Dieese, “por mais que os estudiosos dos empresários queiram torcer os dados da forma que for, a realidade mostra que no Brasil a terceirização é usada para precarizar”.

Um dos autores do estudo “otimista”, que analisou dados de 2007 a 2014, Eduardo Zylberstajn (EESP/FGV e Fipe), confirmou que a tese tem por objetivo contestar pesquisa da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Dieese. As duas entidades denunciam que terceirizados ganham 24,7% a menos do que os trabalhadores diretamente contratados.

Discurso da grande mídia

Na reportagem de O Globo, o pesquisador Helio Zylberstajn, pai de Eduardo, completa que os números do Dieese são “discurso alarmista”. Segundo pai e filho Zylberstajn, a queda na remuneração do terceirizado é de 2,3% na remuneração.

O assunto ganhou fôlego neste domingo (10) após a Folha de S.Paulo, que publicou matéria sobre o assunto, receber enxurrada de críticas à reportagem “Terceirizar não derruba salário, aponta estudo”.

Até a ombudsman do jornal, Paula Cesarino Costa, escreveu que a matéria da FSP deixa um “incômodo” por se apoiar em único estudo. Segundo Paula, o não reconhecimento por parte dos autores do texto jornalístico de que o título é impreciso ajudou a reforçar entre os leitores de que a Folha publicou o estudo “por estar afinada com ele”.

Dieese fez estudo abrangente

Estudo do Dieese que considera o mesmo período aponta que a remuneração nas atividades tipicamente terceirizadas é menor do que naquelas em que o trabalhador é contratado diretamente. “De 2007 a 2014, essa diferença se manteve, em média, entre 23% e 27%. Em dezembro de 2014, a remuneração média nas atividades tipicamente contratantes era de R$ 2.639, enquanto nas atividades tipicamente terceirizadas era de R$ 2.021”.

Patrícia lembra que os dois estudos partem de pressupostos diferentes. Segundo ela, o Dieese se debruçou sobre os dados da Relação Anual de informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTB), estatísticas sobre salários, condições de trabalho, acidentes de trabalho e assédio moral. O estudo dos Zylberstajn e mais Guilherme Stein (Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser) se baseou na Rais e no ponto Salários, afirmou Patrícia. “Buscamos fazer uma metodologia mais abrangente”, contou a pesquisadora.

Segundo ela, ao comparar os pisos das categorias, as condições mínimas de trabalho entre as que não foram terceirizadas e as terceirizadas se nota “condições diferenciadas para pior em tudo”. “Um exemplo é pegar a convenção de um trabalhador bancário que é contratado diretamente e um terceirizado. Eles fazem o mesmo trabalho só que o terceirizado tem menos proteção e os benefícios são menores”, comparou.

Não cola discurso da boa terceirização

Dados do Ministério do Trabalho mostram que os terceirizados são as principais vítimas de acidentes de trabalho. “No setor elétrico a maior parte dos acidentes é com terceirizados, principalmente os acidentes fatais. Tudo isso não é coincidência. Não é fatalidade. Qual é a supertecnologia que as empresas terceirizadas utilizam de forma a que seu custo fosse muito menor do que fosse pela tomadora? Só tem um jeito de baixar esse custo precarizando o trabalho”.

Patrícia contou que se surpreendeu com o grau de agressividade da defesa do estudo feito pelos Zylberstajn contra o trabalho do Dieese. “Não é usual no mundo acadêmico se desconstruir um trabalho para fazer prevalecer seu ponto de vista”, ressaltou. Na opinião dela, esse tipo de postura mostra que parte do empresariado encontra dificuldade em “fazer colar a terceirização como uma opção boa”.

Para Patrícia a terceirização é sinônimo de retrocesso. “É perda da qualidade do país como sociedade. Não só perda das condições dos trabalhadores mas perda econômica. Isso significa dar passos para trás. Não há possibilidade do desenvolvimento do país sem um mercado interno forte e mercado interno forte significa uma distribuição melhor da renda”, avaliou.

Fonte: Portal Vermelho