Voltar

O desfile da Tuiuti, a história e aquilo que a Globo não conta. Por Maria Frô

14 de Fevereiro de 2018

Brasil

Todo mundo já sabe o escândalo do golpe pelas mãos, pés, plumas, samba e alegorias da Tuiuti

A escola com o samba-enredo de autoria de Moacyr Luz, Cláudio Russo, Anibal, Jurandir e Zezé fez a mais dura crítica social ao golpe e suas consequências. O carro alegórico “Neotumbeiro”, que a frente traz o vampirão Temer e banqueiros, moedas, engravatados do grande capital e, abaixo, os paneleiros, chamados de “manifestoches”, merecia muito close e um historiador decente para traduzir cada componente do carro que a Globo evitou o quanto pode mostrar os detalhes e comentar. Só esse carro que é complementado com as alas do “trabalho escravo no campo e na cidade”, com a ala do “trabalho informal precarizado”, com a ala dos “manifestoches” (coxinhas de camisa da CBF, patos da Fiesp) valeu todo o desfile.

Mas não acaba aí, a Tuiuti conseguiu unir passado e presente mostrando que os neotumbeiros de hoje são herdeiros dos traficantes de escravos do passado. Seu enredo com duplo refrão (outra coisa inédita no carnaval) une passado e presente e nos convida a reagir: que sejamos todos livres, que não sejamos escravos de nenhum senhor, que possamos enfrentar os neoescravagistas, os neocapitães do mato, hoje a serviço do capital financeiro, que nos assalta direitos. Que após 130 anos de abolição, nós possamos de fato extirpar a exploração do capital e trazer dignidade aos trabalhadores, os verdadeiros produtores da riqueza.

Mas não é exclusivamente sobre o desfile da Tuiuti que gostaria de falar. Queria chamar atenção de alguns comentários globais durante o desfile da Tuiuti. MEU DEUS, MEU DEUS, NÃO ME LEVE A MAL, MAS NÃO AGUENTO COMENTÁRIO SOBRE DESFILE DE CARNAVAL DE GLOBAL!

Comentaristas globais, please, estudem história básica, primária, antes de falar as atrocidades conceituais nos comentários de desfile de escola de samba.

A ala “corveia egípcia” da Tuiuti mostra que na sociedade do Antigo Egito a sociedade não se estabeleceu sobre o modo de produção escravista como a Roma e Grécia Antigas, já que a escola fala das relações de trabalho ao longo do tempo e optou por um recorte cronológico como é comum nos sambas-enredos. A ideia de todo o samba-enredo, lembrando sempre que o foco da Tuiuti é a classe trabalhadora ao longo do tempo, é a centralidade do trabalho humano, a denuncia da exploração dos trabalhadores através do tempo.