Para Carmem Foro, paridade e maior atuação de ramos reforçam democracia na CUT
20 de Outubro de 2015
Ramo Químico
Vice-presidenta da CUTala dos avanços a partir do 12º CONCUT e aposta em mudanças significativas após paridade de gênero
Por Luiz Carvalho – CUT Nacional
Logo após os 2.154 delegados e delegadas do 12º Congresso Nacional da CUT (CONCUT) referendarem a nova direção da Central, na última sexta-feira (16), a vice-presidenta da Central, Carmen Foro, apontava que a maior organização sindical do país começava a fazer história.
Primeira central a adotar a paridade em sua direção, a CUT passa a conviver mais intimamente com pautas relacionadas a detalhes cotidianos que costumam passar despercebidos, por exemplo, os horários de reuniões proibitivos para aquelas que ainda são as principais responsáveis pelo trabalho doméstico, ressalta a dirigente. Esse papel, aliás, é outro ponto a ser discutido no ambiente cutista, que viu no Congresso a participação das trabalhadoras chegar a 43%.
Em entrevista ao Portal da Central Única dos Trabalhadores, Carmen fala também da ampliação da atuação dos ramos na direção e ressalta que o processo do 12º CONCUT, lançado em março, no Congresso Nacional, e que deu maior voz às bases, reflete a luta da entidade para aprimorar a democracia, inclusive em suas instâncias.
Ao final do 12º CONCUT, quais você considera as principais conquistas deste encontro?
Carmen Foro - O Congresso da CUT encerrou no dia 16, mas não teve início na última semana, começou em março, quando fizemos o lançamento no Congresso Nacional, como parte de um amplo processo de participação das nossas bases na construção dessa etapa. Fechamos esse encontro com chave de ouro, à altura do papel que a CUT tem assumido na sociedade brasileira. Aconteceu nos sindicatos base, nos estados, inclusive avaliando o momento político muito forte, o que ajuda a empoderar cada vez mais a classe trabalhadora e a fazer com que sindicatos saiam muito fortalecidos. O CONCUT foi muito grande, tanto do ponto de vista do conteúdo, quanto de sua mobilização, e saio com a certeza de que a classe trabalhadora sai desse encontro com unidade na direção e na política.
Ainda sobre unidade, a partir de agora a CUT terá paridade. O que isso muda na prática além da divisão por gênero?
Carmen Foro - A CUT amanheceu nesta segunda-feira (19) muito mais igualitária, porque, tanto nas estaduais, quanto na nacional, temos 50% de mulheres. Não basta apenas nossa presença em número para que tenhamos igualdade em geral, claro, mas estamos construindo um belo caminho, uma bela história. Desde que a Central existe, há 32 anos, estamos trabalhando e militando para ampliar a atuação das trabalhadoras no interior da CUT e, com isso, um conjunto de proposições e plataformas que têm levado a conquista até mesmo para mulheres que nem estão nos sindicatos. Mas nossa força e papel. A Central Única dos Trabalhadores tem reforçado a luta de classes e as mulheres da CUT, a capacidade de organização dentro e fora da nossa instância.
A paridade mexe também com a agenda da Central?
Carmen Foro - Vamos viver um novo momento, nossos temas, nossas plataformas ganharão muito mais espaço. A CUT terá que ter muito mais sensibilidade para lidar com metade da sua direção nos estados e na nacional. Terá de ter outro olhar para questões como horário das reuniões, por exemplo, porque ainda carregamos um conjunto de responsabilidades que não conseguimos partilhar. Aquilo que falávamos como 30%, agora será falado como 50% e a maior entidade do movimento sindical deu o exemplo. Vamos ter uma mudança significativa de fala e peso político.
Também aumentou a participação dos ramos dentro da Central. Essa é uma demonstração de que a democracia foi ampliada na CUT?
Carmen Foro - A presença igualitária de mulheres reforça a democracia, porque sem a presença das mulheres não haverá democracia em lugar algum. A inclusão de todos os ramos na Executiva e na direção coloca a Central no patamar de uma organização verdadeiramente representativa da pluralidade de seus sindicatos. O aumento da direção para garantir a presença de todos os ramos na direção significa muito, do ponto de vista democrático, o fortalecimento da maior central do país.
Mais uma vez a participação dos rurais, com 325 representantes, foi expressiva. Como isso impacta na pauta da Central?
Carmen Foro - A CUT é uma central diferente de outras do mundo todo e a prova é a capacidade de representar e organizar trabalhadores do campo e a cidade. Não é possível fazer um debate sobre desenvolvimento e mudança econômica sem levar em conta a importância do campo, na perspectiva da diversidade cultural, mas também de produção de alimentos. Produzimos 70% do que se consome na mesa de brasileiros e brasileiras e é justo a CUT reconhecer isso e termos cinco mulheres com base no campo presentes em nossa Executiva, nas secretarias de Juventude, Saúde do Trabalhador, Formação e na Vice-Presidência, além da direção executiva. Mulheres que vieram de fortes lutas sindicais rurais no estado do Pará, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Santa Catarina.
Quais os grandes desafios desta gestão?
Carmen Foro - Imediatamente, temos que enfrentar essa conjuntura, diversa, complexa para nos afirmarmos ainda mais na defesa dos trabalhadores. Saímos do CONCUT com o sentimento, e batemos nessa tecla desde janeiro deste ano, de que a política econômica prejudica os trabalhadores e saímos com uma orientação de que é preciso mudar esse modelo conduzido pelo governo federal. Além disso, teremos de intensificar a mobilização para enfrentar temas que tramitam no Congresso e impactam a classe trabalhadora, como a terceirização e o negociado sobre o legislado, que estão na ordem do dia. A longo prazo, devemos manter também o papel que temos cumprido, de não ficar somente ao redor dos temas trabalhistas. Lutas como a defesa de uma reforma política que inclua jovens, mulheres, negros, índios, colocar em prática o fim do financiamento empresarial, defender a democracia são questões que norteiam nossa existência, assim como enfrentar a mídia que monopoliza e manipula a informação, deseducando nosso povo.