Petroleiros decidem aderir à greve geral dia 30 para barrar desmonte
25 de Junho de 2017
Petrobras
Exemplos de Vila Socó e Bhopal mostram que por trás de tragédias anunciadas, estão drásticos cortes de custos e redução do efetivo de trabalhadores
Os petroleiros voltam a cruzar os braços no dia 30 de junho, durante a greve geral convocada pelas centrais sindicais. Mais uma vez, a categoria denunciará à sociedade o desmonte do Sistema Petrobrás, que agora atinge também as refinarias, através de uma política deliberada de sabotagem industrial que pode levar a um grande acidente ampliado, nas proporções de Vila Socó, em Cubatão, e de Bhopal, na Índia, que resultaram em centenas de mortos nos anos 80.
Desmonte faz da Petrobrás fábrica de acidentes
A atual gestão da Petrobrás age de forma deliberada para sucatear as refinarias e, assim, facilitar a privatização. Unilateralmente, a direção da empresa reestruturou o modelo operacional, fechando postos de trabalho, descumprindo o Acordo Coletivo de Trabalho, violando normas de segurança e expondo os trabalhadores e as comunidades vizinhas a sequências diárias de acidentes que evidenciam os riscos cada vez maiores de uma grande tragédia anunciada.
Por isso, nas refinarias a greve será por tempo indeterminado, com avaliações diárias, conforme definiu o Conselho Deliberativo da FUP, em reunião quinta-feira, 22. A greve em defesa da vida foi amplamente aprovada pelos trabalhadores do refino em assembleias realizadas nas últimas semanas. O movimento terá início à zero hora do dia 30, quando toda a categoria petroleira estará mobilizada na greve geral contra o desmonte dos direitos trabalhistas e do Sistema Petrobrás.
Os exemplos de Vila Socó e Bhopal
24 de fevereiro de 1984. Um incêndio de proporções gigantescas, que durou até o dia seguinte, dizimou a comunidade de Vila Socó, em Cubatão, matando centenas de pessoas - oficialmente, foram divulgadas 93 vítimas, mas acredita-se que esse número chegue a 508. Mais de três mil famílias ficaram desabrigadas. O fogo começou no final da noite, após um vazamento em um dos dutos que ligam a RPBC ao Terminal de Alemoa. Cerca de dois milhões de litros de gasolina teriam vazado, alimentando labaredas monstruosas que incendiaram os 600 barracos da comunidade. Foi uma tragédia anunciada, pois os petroleiros denunciavam a falta de manutenção e o sucateamento da refinaria.
03 de dezembro de 1984. Um vazamento de gás altamente tóxico da fábrica de agrotóxicos Union Carbide, na cidade de Bhopal, região central da Índia, matou em questões minutos cerca de três mil pessoas. Calcula-se, que outros 15 mil morreram nas semanas e meses seguintes. Mais de 150 mil pessoas foram intoxicadas e ainda hoje centenas de indianos sofrem os efeitos deste que é considerado um dos maiores desastres industriais do planeta. Por trás de mais esta tragédia anunciada, estão drásticos cortes de custos e redução dos efetivos de trabalhadores a menos da metade. Na sala de controle, por exemplo, apenas um trabalhador monitorava mais de 70 painéis.
SABOTAGEM + SUCATEAMENTO = PRIVATIZAÇÃO
O sucateamento das refinarias obedece a lógica do atual governo golpista de reduzir o máximo possível a presença da Petrobrás na indústria petrolífera, transferindo ativos estratégicos para o setor privado e abrindo toda a infraestrutura e logística da empresa para as multinacionais. O objetivo é fazer o que o governo Fernando Henrique não conseguiu nos anos 90: privatizar por completo o setor de energia. Vale tudo, inclusive sabotagem industrial. É o que vem fazendo Pedro Parente e sua turma.
Em uma ação casada, ele alterou a política de preços de combustíveis e reduziu drasticamente a carga processada das refinarias, fazendo a Petrobrás perder espaço no mercado doméstico de combustíveis para as suas concorrentes. Segundo dados da ANP, cerca de 20% do mercado já é hoje abastecido por produtos importados.
O desmonte é tamanho que o parque de refino da estatal está operando com pouco mais de 70% de sua capacidade. Com isso, o Brasil deixa de processar quase meio milhão de barris de petróleo por dia, o que beneficia diretamente as tradings multinacionais que concorrem com a Petrobrás. Só nos primeiros quatro meses do ano, as importações subiram 41,4% em relação ao mesmo período de 2016. É o maior volume desde 2000.
A resposta é greve
A única chance dos trabalhadores barrarem esse desmonte é através da luta organizada. Por isso, os petroleiros reforçarão a greve geral do dia 30, repetindo a grande atuação da categoria no dia 28 de abril. O indicativo da FUP e de seus sindicatos é que todos os trabalhadores do Sistema Petrobrás participem da paralisação nacional no dia 30, denunciando o desmonte que Pedro Parente e sua turma vêm impondo à empresa. Nas refinarias, a greve será por tempo indeterminado, em defesa da vida. A FUP e seus sindicatos farão avaliações diárias do movimento junto com os trabalhadores. Várias unidades já estão em processo de mobilização. O que está em risco não é só o destino do Sistema Petrobrás e dos direitos dos trabalhadores, é também a vida de cada um dos petroleiros e a segurança das comunidades.
Fonte: FUP