Por que devemos olhar pra Argentina?
24 de Janeiro de 2024
Internacional
Artigo por Lucineide Varjão
A mobilização dos movimentos sociais e dos sindicatos brasileiros em solidariedade às trabalhadoras e aos trabalhadores argentinos é, de fato, urgente, não apenas para reforçar e visibilizar globalmente os atos de resistência contra os ataques de Milei; como também para manter aceso o alerta de que o Brasil não está efetivamente livre da ultradireita.
Se esta volta ao poder nas eleições de 2026, vem ainda mais radicalizada, apresentando riscos reais às instituições que compõem a noção possível de democracia em uma sociedade capitalista, que, apesar de todos os defeitos, deve ser preservada em detrimento de regimes que violam direitos da classe trabalhadora, normas constitucionais e tratados internacionais.
Conseguimos, nas urnas, por meio das vias democráticas, derrotar um projeto de poder que, em eventual segundo mandato, acirraria o desmonte social iniciado no pós-golpe de 2016 e acentuado pelo último desgoverno.
O movimento sindical, que protagonizou conquistas históricas, esteve entre os principais alvos deste ciclo nefasto da história brasileira recente, haja vista a Reforma Trabalhista de 2017.
Não há que se duvidar, portanto, que, em eventual retorno ao poder, a ultradireita “dobraria a aposta”, lançando mão de medidas, como as decretadas por Milei, que afrontam a liberdade sindical, o direito de greve, e o direito de protesto e manifestação.
Estamos, no Brasil, vivendo um governo de disputas, eleito por pequena margem e marcado por complexidades, a despeito da boa vontade e das melhores intenções do Presidente Lula.
Cabe às trabalhadoras e aos trabalhadores organizados cumprirem o papel de dar o suporte necessário, mas também pressionar por uma agenda progressista e pela execução de políticas de curto, médio e longo prazo que impactem positivamente a vida das pessoas que mais precisam do Estado. Este é um ponto crucial para evitar que o populismo de ultradireita se alastre e volte a ganhar apoio popular.
Companheiras e companheiros mais otimistas podem apontar doses de alarmismo, mas reitero: a ultradireita está organizada globalmente. Vitórias eleitorais na América Latina, o fortalecimento de Donald Trump nos Estados Unidos e imagens assustadoras de atos fascistas na Europa deveriam ser elementos suficientes para entendermos que a situação não é confortável.
A esperança deve ser sempre alimentada, mas pode ser vã se não acompanhada de percepções críticas da realidade e de ações que construam o presente e o futuro almejados.
LUCINEIDE VARJÃO
Vice-Presidenta da IndustriAll Global Union
Secretária de Relações Internacionais da CNQ-CUT
Dirigente do Sindicato dos Químicos de São Paulo
Presidenta da ONG Casa Margarida Barreto