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"Brasil iniciou hoje resgate da dívida histórica que tem com João Goulart"

15 de Novembro de 2013

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Fala é do secretário de Políticas Sociais da CUT que na quinta (14) representou a Central no ato que recebeu, com honras, os restos mortais de Jango...

goulart 14 11aFala é do secretário de Políticas Sociais da CUT que na quinta (14) representou a Central no ato que recebeu, com honras, os restos mortais de Jango cuja morte será investigada 37 anos depois

 

 

 

“O Brasil resgata hoje, 14 de novembro, uma dívida de 37 anos com a família do ex-presidente João Goulart, e também com a a própria história do País, com este ato realizado na base aérea de Brasília, o mesmo local de onde ele partiu, deposto, para o exílio. É muito emocionante presenciar parte do pagamento desta dívida. A outra parte só será resgatada quando for concluída a investigação e esclarecida a causa da morte do ex-presidente deposto pela ditadura militar e morto no exílio", afirmou o secretário nacional de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney.

O dirigente participou da cerimônia realizada nesta quinta-feira (14), em Brasília, que recebeu os restos mortais de João Goulart com honras de chefe de Estado, honras que lhe foram negadas pelo regime militar. Solaney representou a CUT na solenidade.

A homenagem começou de manhã com a recepção ao caixão na base aérea de Brasília pela presidenta Dilma Rousseff e por três de seus antecessores no Palácio do Planalto - Lula, Fernando Collor e José Sarney. A urna com os restos mortais de Goulart foi retirada do avião da FAB, vindo do RS, com a tarja fúnebre atribuída a chefes de Estado, sob salva de 21 tiros e ao som do Hino Nacional. Parlamentares e membros da Comissão Nacional da Verdade também participaram do ato para convidados.

João Goulart foi deposto pelo golpe militar de 1964, foi para o exílio no Uruguai e, depois, na Argentina morreu em 1976 de infarto, segundo versão oficial divulgada à época. Em março deste ano, a família do ex-presidente pediu a exumação do corpo porque sempre suspeitou que ele tenha sido assassinado por envenenamento pelo próprio regime militar que tirou Jango do poder. Não foi realizada autópsia na ocasião.

Apoio da CUT – “O ato de hoje e a investigação da causa da morte são muito importantes para toda a sociedade brasileira e, em especial, para a CUT, que lutou pela redemocratização do Brasil e o fim da ditadura”, afirmou Solaney.

Esse reparo histórico, disse o dirigente, "essa justa homenagem somente foi possível porque o Brasil tem um governo democrático popular, desde 2002, que instituiu a Comissão Nacional da Verdade, responsável pela recuperação e esclarecimento dessa e de outras histórias contadas pela ditadura".

A CUT faz parte do Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical, da Comissão Nacional da Verdade, e apoiou o processo que culminou na exumação do corpo de João Goulart e na investigação que se seguirá com a perícia técnica. “Será um trabalho difícil e demorado, mas muito importante”, afirmou Solaney.

“Este é um gesto do Estado brasileiro para homenagear o ex-presidente João Goulart e sua memória. Essa cerimônia que o Estado brasileiro promove é uma afirmação da nossa democracia. Uma democracia que se consolida com este gesto histórico”, disse a presidenta Dilma durante a cerimônia, em Brasília.

goulart capa cruzeiroCapa histórica da revista O Cruzeiro, de 13 de setembro de 1961,

saudando João Goulart que assumira após a renúncia de Jânio Quadros

 

Exumação e história - A exumação, que durou mais de 18 horas, foi realizada ontem (14) sob o acompanhamento de familiares e autoridades - ministros Maria do Rosário (Direitos Humanos) e José Eduardo Cardozo (Justiça). A exumação faz parte de uma investigação solicitada pela família do ex-presidente.

O próximo passo da investigação acontecerá no Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília, onde serão realizados vários exames, entre eles “antropológicos e de DNA", conforme especialistas. Em uma segunda etapa, os restos mortais também serão submetidos a exames toxicológicos, mas em laboratórios internacionais.

Morto em dezembro de 1976 em um hotel da cidade argentina de Mercedes, João Goulart foi o último presidente do Brasil antes da instauração do Regime Militar (1964-1985). Nascido no dia 1 de março de 1918 na cidade de São Borja, RS, formou-se em Direito em 1939 e ingressou na política em 1946 – ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores do Brasil (PTB).

O pai de Jango era dono de um grande estancieiro em São Borja e amigo pessoal de Getúlio Vargas. Com a morte do pai, Jango herdou as extensas propriedades e uma grande quantia de dinheiro.

Goulart teve como padrinho político Getúlio Vargas. Após a morte de Getúlio ele, que ainda era presidente do PTB, foi lançado como vice de Juscelino Kubitschek. Apesar de ter perdido em votação para ocupar uma cadeira do Senado em 1954, durante o governo de Kubitschek conseguiu, por meio de uma medida constitucional, presidir o Senado entre 1956 e 1961.

Quando Jânio Quadros chegou à presidência, em 1961, Jango se lançou como vice, mas com a renúncia de Jânio ele só assumiu após a aprovação de uma emenda institucional que alterava o sistema político presidencialista para parlamentarista. Assim, ele tinha menos poder político, pois atuava como primeiro-ministro.

Destituído da presidência foi para Montevidéu, no Uruguai, onde ainda participou da Frente Ampla em parceria com seu ex-opositor político, Leonel Brizola, na tentativa de restabelecer o regime democrático no Brasil. Morreu antes disso.

Fotos: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

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Conheça mais:

Jango é um documentário brasileiro dirigido pelo cineasta Sílvio Tendler, que narra o governo de João Goulart enquanto presidente do Brasil (1961-1964). Lançado em março de 1984, o filme teve seu roteiro escrito por Maurício Dias e Sílvio Tendler, enquanto a trilha-sonora foi desenvolvida por Milton Nascimento e Wagner Tiso. A montagem foi conduzida por Francisco Sérgio Moreira e os produtores associados foram Denise Goulart (filha do ex-presidente) e Hélio Paulo Ferraz.

O livro, baseado na película, foi lançado pela editora L&PM (imagem abaixo).

Vale a pena conhecer um pouco mais dessa história recente do País.

Jango capa filme