8º ENACOM: Revista Fórum e Mídia Ninja destacam papel de sindicato nas conexões
20 de Março de 2015
Comunicação
O 8º Encontro Nacional de Comunicação da CUT, que teve como centro dos debates a formação de redes apontou para a necessidade de a Central usar os mecanismos digitais para organizar e ampliar a participação das bases.
Nesse processo, os veículos tradicionais perderam relativo poder, mas continuam fortes. E nas redes permanece a disputa por trás das redes de grupos querendo controlá-las.
“Há disputa de narrativa e controle, por isso foi tão importante a aprovação do marco civil da internet que cria uma legislação para impedir boa parte desse controle. Para nossa geração, boa parte das disputas será justamente sobre essa neutralidade”, afirma Renato Rovai, da Revista Fórum.
Rovai comparou o processo de regulamentação da internet com o da radiodifusão, que começou com rádios amadores e terminou com o modelo atual em que uns falam e outros ouvem. “Não é isso que queremos que aconteça na rede. Sem mediações próximas, as disputam deixam de ser entre Globo e PT, por exemplo, mas de redes contra redes.”
Das ruas para as redes
Nesse ponto é que a CUT e outras organizações se inserem. Aqueles que possuem capacidade de mobilização fora do mundo virtual têm o desafio de transferir essa representatividade para as redes.
“Toda disputa nos campos sociais, políticos, esportivos se darão no ambiente de redes. Temos que fazer hackeamento social e não podemos deixar isso para eles (direita). A CUT tem papel importantíssimo do ponto de vista político e tem que dar F5 para entrar radicalmente nessa disputa com os grandes porque é grande”, disse Rovai.
O processo, alerta, não pode respeitar o conceito tradicional de hierarquia, de cima para baixo, mas sim com cada sindicato sendo um ponto forte na rede para que a CUT seja forte.
“A gente não precisa da Rede Globo, a gente pode ter vários veículos que vão desgastando a Rede Globo. As grandes audiências já não tem 80% do país, mas 35%.”
Para Rovai, a construção dessa rede passa pela organização da participação dos sindicatos. E a CUT, por sua vez, deve utilizar essa integração para organizar o movimento.
CUT não parte do zero
Representante da Casa Fora do Eixo e do Mídia Ninja, Cristian Braga alertou que a parte mais difícil, que é a construção da rede, a CUT já fez. O próximo passo, para ele, é fazer a consolidação do que define como midiativismo.
Braga acredita que o grande desafio é formar, empoderar e dar autonomia para produção regional num ambiente em que há cidadãos-rede e cidadãos multimídia que formam opinião e estão conectados a diversas pessoas.
Para ele, o texto mantém o papel fundamental, mas, em coletivos, a construção engloba várias personagens. “Se não somos melhores em textos, temos parceiros que podem fazer isso. O processo tem que ser colaborativo”, explicou.
Onde o movimento avançou
O encerramento do primeiro dia do 8º Enacom coube ao presidente da TVT (TV dos Trabalhadores), Valter Sanches, e ao coordenador da Rede Brasil Atual, Paulo Salvador.
Sanches falou do papel das TVs públicas no país. Comparando o Brasil a outros países da América do Sul – a TV Brasil, presente no Youtube desde 2006, tem 50 mil inscritos e 35 milhões de visualizações, e a TV Pública argentina, desde 2009 na mesma rede social, tem 213 mil inscritos e 136 milhões de visualizações –, ele tratou das verbas públicas para a velha mídia (R$ 1,7 bilhões anuais, em média) e afirmou que, ao invés de aguardar outorgas e o processo de uma concessão de canal (a TVT ficou 30 anos na fila), a emissora resolveu aderir a sucursais.
A primeira será no Rio de Janeiro, onde um grupo de cinco sindicatos custearam a produção de conteúdo. Ganham as organizações, que terão o conteúdo exibido na TV, e ganha a TV que passa a ter um caráter cada vez mais nacionais.
“O maior desafio é fazer com que conjuntos dos movimentos sociais estejam a bordo desse projeto. A postura colaborativa é o melhor que podemos construir entre nós”, afirma Sanchez.
Já Salvador ressalta que o movimento sindical tem três grandes desafios: aumentar a consciência no movimento sindical de que a comunicação é estratégia e isso tem reflexo na vida cotidiana; lutar pela regulamentação econômica e colocar a mão na massa.
“Cada um deve fazer sua parte. Nós, a produção da notícia, mas o movimento deve consumir os produtos da rede, colocar link, divulgar, mandar notícia, cobrar e criticar. Se não fizer isso, vamos sempre ficar no ‘chororô’ ou estaremos sempre atrasados. Nossa inserção é muito menor do que realmente somos”, definiu.
Por: Luiz Carvalho (CUT)