Sindicalistas protestam contra governo Temer durante encontro da OIT
07 de Junho de 2016
Brasil
Durante a 105ª Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, enquanto sindicalistas ligados à CUT e à CTB buscam divulgar o que chamam de golpe ocorrido no Brasil, o governo interino tenta convencer as delegações internacionais que o país vive um período de normalidade.
Ontem, representantes das centrais fizeram protesto com a presença de dirigentes de todo o mundo. Hoje (7) pela manhã, o ministro do Trabalho brasileiro, Ronaldo Nogueira, seria recebido pelo diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, que no final de abril esteve no Brasil, para participar do congresso da Central Sindical das Américas (CSA), e foi recebido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As centrais brasileiras apoiam a reeleição do britânico Ryder, de origem sindical.
Segundo o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa, pelo menos 250 pessoas participaram da manifestação de ontem, em um ato que serviu também para tirar dúvidas dos sindicalistas estrangeiros. "Muitos só têm informações da grande imprensa brasileira. Eles também reafirmaram seu apoio a nossa luta", afirmou.
A central está divulgando em Genebra um documento chamado "Somos Brasil contra o golpe", em que menciona "ataques sistemáticos e orquestrados por setores do Judiciário, empresários, grandes meios de comunicação e apoiados, de maneira entusiasmada, pela parcela mais rica da sociedade brasileira". Segundo a central, o programa dos articuladores do golpe prevê enfraquecimento dos Brics e do Mercosul, desregulamentação do mercado de trabalho, elevação da idade mínima para aposentadoria e "privatizações selvagens", incluindo o pré-sal, entre outros itens.
Na semana passada, houve tumulto durante sessão da Comissão de Normas da OIT que discutia assassinatos de indígenas em Honduras. Segundo Lisboa, um representante da Venezuela citou golpes naquele país, no Paraguai e no Brasil – isso provocou reação de um membro da diplomacia brasileira, que começou a ler documento do Itamaraty negando a existência de um golpe no país.
O ministro das Relações Exteriores, José Serra, distribuiu circular às embaixadas determinando que todas as representações rebatam essas afirmações. "Toda vez que se falar em golpe, os diplomatas do Brasil devem ler esse texto", lembrou o dirigente da CUT. Na reunião, houve reação de boa parte do plenário e o representante brasileiro não pôde concluir sua fala.
Constrangimento
Lisboa avalia que a visão de que houve de fato um golpe no Brasil, com o afastamento de Dilma Rousseff, é majoritária entre as delegações. "Eu diria que é quase unanimidade, não só entre os trabalhadores", diz. "Entre os governos, há claramente um sentimento que eu diria de constrangimento."
Sindicalistas decidiram não comparecer a uma recepção com a presença do ministro do Trabalho. "Uma coisa é a relação com o Estado brasileiro aqui, com a embaixada. Outra é a relação com o governo, que não reconhecemos."
A posição não é unitária entre as centrais. Hoje, por exemplo, Força Sindical, UGT, CSB e Nova Central reuniram-se com o ministro do Trabalho em Genebra.
Amanhã, às 9h30 (horário de Brasília), o delegado oficial da bancada dos trabalhadores, Sérgio Luiz Leite, o Serginho, dirigente da Força, fará seu discurso na conferência, com ênfase na ameaça à perda de direitos sociais como tendência mundial. "O discurso dele é em defesa dos direitos, que é o centro da nossa luta. Até porque no Brasil o golpe, por um lado, é para barrar investigações sobre corrupção, e por outro é para barrar direitos dos trabalhadores", afirma Lisboa.
Pelo governo, quem fará o discurso é o ministro Ronaldo Nogueira. Por parte dos empregadores, o representante é o vice-presidente administrativo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Darci Piana. A conferência da OIT vai até a próxima sexta-feira (10).
Fonte: Rede Brasil Atual