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Soberania em xeque: o que está por trás das tarifas de Trump

22 de Julho de 2025

Internacional

Artigo por Elaine Blefari, Secretária de Relações Internacionais da CNQ



As tarifas anunciadas por Donald Trump contra produtos brasileiros não são apenas uma medida econômica protecionista — são um claro ataque político, com fortes implicações geopolíticas. Disfarçada de “proteção à indústria norte-americana”, a medida é, na verdade, uma chantagem tarifária sem critérios plausíveis, que atinge diretamente a economia nacional, ameaça milhares de empregos e tenta impor limites à soberania do Brasil.
 
Não é coincidência que essas ameaças venham em meio ao fortalecimento do Brasil junto aos BRICS e à busca por um novo protagonismo internacional fora do eixo de submissão histórica aos Estados Unidos. Tampouco é casual que Eduardo Bolsonaro esteja, ao mesmo tempo, nos EUA conspirando em defesa do pai — inelegível e réu por tentativa de golpe — buscando apoio justamente daqueles que agora atacam o Brasil com tarifas abusivas.
 
A retaliação de Trump tem motivação claramente política. Ao tentar deslegitimar instituições brasileiras como o Supremo Tribunal Federal e influenciar a condução da política econômica nacional por meio da pressão comercial, o ex-presidente norte-americano não está apenas mirando a economia: está tentando ditar os rumos da nossa democracia e botar um freio nas relações pautadas pelo multilateralismo.
 
As consequências são graves. Setores estratégicos como o químico, o siderúrgico e o agronegócio serão atingidos, com potencial de desemprego e desestabilização em diversas regiões do país. Mas a resposta a esse cenário não pode ser nem o silêncio diplomático, nem a submissão.
 
É hora de fortalecer uma política externa soberana, que defenda o Brasil das chantagens das grandes potências e rompa com a lógica de dependência imposta ao Sul Global. É hora de reindustrializar o país, fortalecer cadeias produtivas nacionais e impulsionar alianças comerciais com países latino-americanos, africanos e asiáticos, com base em solidariedade e complementariedade.
 
A lógica neoliberal exportadora, centrada na venda de commodities a preços baixos e na importação de produtos industrializados a preços altos, já se mostrou insuficiente. Precisamos de um modelo que coloque os direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores e a transição energética justa no centro do projeto de desenvolvimento.
 
Trump tenta frear a autonomia do Brasil porque teme o avanço de um país que caminha, ainda que com dificuldades, rumo à reconstrução democrática e à valorização de seu povo. Por isso, não há espaço para neutralidade: é preciso denunciar o protecionismo imperialista, combater a extrema direita internacional e reafirmar a soberania como pilar de uma nação justa e popular.
 
A CNQ-CUT está atenta e seguirá firme em defesa dos empregos, da democracia e da soberania brasileira. O futuro não pode ser escrito sob chantagem.