Soberania nacional é discutida no Seminário de Energia da Região Sudeste
11 de Setembro de 2014
Ramo Químico
*Por MAB No segundo dia do Seminário Modelo Energético Brasileiro: Atualidades e Perspectivas, que aconteceu dias 9 e 10 no Rio de Janeiro, o tema...
*Por MAB
O seminário foi organizado pela Plataforma Operária e Camponesa para a Energia e o evento, no Rio de Janeiro, é o último da série de seminários regionais que já aconteceram nas cidades de Florianópolis, Recife e Belém. Eles deram sequência ao Seminário Nacional da Energia ocorrido em maio deste ano, em Belo Horizonte (MG), e a perspectiva é que até o final do mês de setembro, as organizações que integram a Plataforma entreguem a síntese dos debates à presidenta Dilma. A Plataforma Operária e Camponesa para Energia é composta pela FUP, MAB, FNU, Via Camponesa, Fisenge, Stui DF, Sinergia e Sindieletro.
Durante a mesa da manhã de ontem estiveram presentes o geólogo e ex-diretor da Petrobras, Guilherme Estrella, Franklin Moreira, presidente da FNU e Gilberto Cervinski, da Coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens. Cibele Izidoro Vieira, secretária de formação sindical e política da CNQ-CUT (Confederação Nacional do Ramo Químico) também integrou a mesa de debates (foto).
Estrella deu destaque para a importância da energia para a soberania do nosso país. Segundo ele, só um país com soberania de decisão sobre suas riquezas energéticas é um país soberano. “O Brasil é um país diferenciado na energia e no século 21 exerce um papel muito importante no cenário internacional, pois, ciente de que a energia é a base da sustentação hegemônica no mundo, nosso país surge como um novo protagonista ao se transformar em um país soberano energeticamente”.
O outro debatedor, Franklin Moreira, questionou o atual modelo de consumo energético mundial, que baseado no padrão de vida norte americano é insustentável. “Com 5% da população mundial, os Estados Unidos são responsáveis por 25% de todo o consumo energético de todo o mundo. Se esse padrão de consumo continuar, não há sustentabilidade”, declarou. Ele mencionou também que governos do Terceiro Mundo estão voltando para questões nacionais no campo da energia. “Os países perceberam que é chegada a vez de se desenvolverem e a energia é central para isso. Então, cada vez mais os governos de esquerda, principalmente da América Latina, tomam medidas populares no campo da energia. As medidas que o governo brasileiro fez no último período foram importantes para a retirada de 30 milhões de pessoas da miséria”, mencionou.
Já Gilberto Cervinski fez uma análise do setor elétrico brasileiro e segundo ele, hoje é o sistema financeiro internacional que organiza o setor. Segundo ele, a partir das privatizações do setor, com a investida neoliberal no país nos anos 90, houve um fracionamento em geração, transmissão e distribuição da energia elétrica para atender o interesse das empresas que exigem altas taxas de lucro. “E o principal mecanismo para sustentar esse lucro é a tarifa cobrada todo mês de 64 milhões e 300 mil residências. É dessa forma que se materializa o lucro das empresas”, declarou.
Gilberto também falou da importância da unidade da classe trabalhadora para enfrentar o inimigo principal, que é o imperialismo. “No nosso país temos que estar bem preparados para enfrentar o inimigo de caráter internacional e isso exige de cada organização a plena consciência que este é um inimigo poderoso, e para enfrentá-lo não podemos nos dividir enquanto classe e nem fazer a luta com espontaneidade. Ao contrário, o momento exige um alto preparo da classe trabalhadora, essa luta não envolve só os trabalhadores do setor elétrico e os atingidos, mas a classe como um todo”, disse.
Interesse do imperialismo no pré-sal
Com relação ao pré-sal, a mesa mostrou consenso que o imperialismo tem grande interesse nessa imensa riqueza. “Quem tem tecnologia para explorar o petróleo em águas profundas? Quem tem o controle sobre os maiores campos?”, questionou Cervinski. “Sabemos que a Petrobras é uma empresa com uma marca nacional, com identidade junto ao povo brasileiro. E isso incomoda as grandes corporações e o imperialismo estadunidense. Então, o Brasil está no centro de disputa para a apropriação dessa riqueza por estas empresas”, disse.
Já Estrella disse que com a onda neoliberal nós perdemos o Brasil. “Esta afirmação é definitiva no sentido da perda de parte da nossa soberania pelas privatizações, mas não é definitiva no tempo”, declarou. “Com a eleição de Lula, retomamos o Brasil para nossas mãos na hegemonia da Petrobras no setor de petróleo no Brasil. Esta foi uma decisão de governo e que incomodou a muitos”. Mesmo assim, declarou que ainda há dificuldades na retomada da soberania devido ao grande força do imperialismo.
Fonte e fotos: MAB.
Em debate: geopolítica energética mundial
* Por FUP
Na abertura do evento, terça-feira (9), os participantes do seminário foram saudados pelo Coordenador Nacional do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), Gilberto Cervinski, que além de uma análise da atual conjuntura de luta dos trabalhadores do campo e da cidade, afirmou que vivemos um período de disputa ideológica devido à tentativa da direita em voltar ao poder. “A disputa pela apropriação privada da energia brasileira voltou com força, por isso os trabalhadores devem estar unidos e organizados para intensificar esta luta por um projeto energético popular, seja no petróleo ou na energia elétrica”, afirmou Cervinski.
A mesa sobre energia e geopolítica mundial de energia foi composta pelo professor da Universidade Federal do ABC Paulista, Igor Fuser, pelo diretor da Secretaria de Relações Internacionais da FUP (Federação Única dos Petroleiros), João Antonio de Moraes, e pelo representante da Fisenge (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros), Agamenon Oliveira.
Moraes iniciou sua fala afirmando a importância mundial do petróleo, fazendo um breve histórico deste setor no Brasil, passando pela criação da Petrobras, o momento da campanha “O Petróleo é Nosso”, o período da tentativa de privatização da Petrobras, a descoberta do pré-sal e a mudança do modelo de concessão para a atual lei do petróleo, que é o de partilha e permite que a Petrobras seja operadora única do pré-sal. Moraes também falou sobre a construção do ato em defesa do pré-sal, da Petrobras e do Brasil, que será realizado na próxima segunda-feira, 15, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, e conclamou: “Os trabalhadores tem de estar unidos nesta luta de classe, que representa a defesa da principal riqueza do Brasil atualmente”, ressaltou o sindicalista.
Igor Fuser, professor da Universidade Federal do ABC Paulista, afirmou que é importante olharmos o que está acontecendo lá fora, na energia, na política, para conseguirmos entender a disputa da geopolítica energética mundial. O professor usou o exemplo do Oriente Médio, em especial o Iraque, que tem a terceira maior reserva mundial de petróleo e que, há anos, foi invadido pelos EUA e vive em guerra. Fuser também falou sobre a disputa do petróleo no Brasil feita pela elite brasileira, que é a favor da entrega da soberania energética às empresas multinacionais. “Os EUA tentam impedir a soberania energética dos países periféricos, já que estes países, ao se desenvolverem, atrapalham a supremacia do império estadunidense. Quando o marco regulatório do pré-sal foi debatido, por exemplo, o discurso do mercado era que a Petrobras não tinha pernas e capacidade para dar conta da exploração destas jazidas mas, felizmente, tudo isso tem sido desmentido, já que a Petrobras é a maior empresa de petróleo do Brasil e da América Latina, e, graças aos investimentos nesta empresa é que o pré-sal foi descoberto e já é explorado”, ressaltou Fuser.
O diretor da Fisenge, Agamenon Oliveira, fez uma exposição sobre o histórico da energia elétrica, passando pela descoberta do petróleo, em 1939, citando a renovação do campo energético brasileiro. "O modelo energético no Brasil ficou ainda mais perverso na década de 90 com a total desregulamentação", afirmou Agamenon. Sobre a maior empresa do setor elétrico e a maior de petróleo do Brasil, o sindicalista ressaltou que a fusão das duas seria totalmente benéfico para o país. "Um sonho é a fusão da Eletrobras e Petrobras em uma grande empresa de energia com enorme capacidade de disputa. Isso iria mudar radicalmente o atual panorama."
“Em relação às tarifas do setor elétrico, existem duas questões centrais: regulação e especulação da tarifa e o modelo do setor elétrico, que deve servir ao povo brasileiro, e não às empresas", finalizou Agamenon.
Na parte da tarde, o debate sobre os desafios da soberania energética e alimentar contou com participação da representante do MST/Via Campensina, Marina Santos, de mais um representante da Fisenge, Jorge Antonio, e dos representantes da área de gás e energia da Petrobras, Helio Seidel e Julio Cezar Jeronimo dos Santos.
Fonte e fotos: FUP, por Caroline Cavassa.