Solidariedade à luta dos trabalhadores coreanos
18 de Novembro de 2016
Internacional
Sindicatos convocaram Greve Geral para o próximo dia 30 contra o governo repressivo da Coreia do Sul
Os Sindicatos da Coreia estão convocando uma greve geral para o próximo dia 30 de novembro contra o governo da Coreia do Sul. Nesta sexta-feira, 17, os dirigentes da CNQ e da CUT, a pedido do sindicato global IndustriALL, prestaram solidariedade e total apoio à luta dos companheiros e companheiras daquele país portando cartazes em fotos para as redes sociais.
Ao lado, a presidenta da CNQ, Lucineide Varjão, que é co-presidenta de IndustriALL para América Latina e Caribe, manifesta o seu apoio à luta dos trabalhadores(as) coreanos.
Recentemente, o professor José Celestino Lourenço (Tino), diretor nacional de Cultura da CUT, participou recentemente de inúmeras atividades de solidariedade aos dirigentes sindicais perseguidos e enviados à prisão por defender direitos da classe trabalhadora em Seul, capital da Coreia do Sul.
Em entrevista ao Portal do Mundo do Trabalho, Tino denuncia que as “ações medievalescas do governo da Coreia do Sul, num Estado controlado por grandes transnacionais como a Samsung e a Hyundai, representam uma agressão aos trabalhadores do mundo todo”. Entre muitos abusos, o dirigente cutista lembra a recente condenação a cinco anos de prisão do presidente da Confederação Coreana dos Sindicatos (KCTU), Han Sang Gyun, e a manutenção em cárcere privado da secretária-geral da entidade, Lee Young Joo, acusados por organizarem protestos contra a reforma neoliberal da presidente Park.
Confira abaixo:
Das barbaridades presenciadas em Seul, qual a que mais chamou a atenção?
A decisão da “Justiça” sul-coreana de condenar a cinco anos de prisão o presidente da KCTU, Han Sang Yun, encarcerado desde dezembro de 2015, é realmente um absurdo. Vale lembrar que Han já estava detido desde o ano passado por “obstrução especial de dever público”, “obstrução geral do tráfego” e “incentivar a luta contra a reforma da lei trabalhista que flexibiliza direitos dos trabalhadores”. Eu acompanhei o julgamento ao lado dos companheiros, uma arbitrariedade sem limites. A defesa ficou sentada, não se pronunciou. O juiz entrou, leu a legislação e logo já emitiu a sentença. Temos também o fato da secretária-geral da entidade, Lee Young Joo, estar detida na sede da KCTU desde novembro do ano passado, também ameaçada de prisão por lutar em defesa de direitos sociais e trabalhistas.
Alguma similaridade com o Brasil?
Há muita semelhança na criminalização aos movimentos sociais e, particularmente, nos ataques à educação no Brasil, com a lei da mordaça que busca impedir a liberdade de expressão e uma educação libertadora, tentando retirar sociologia e filosofia do ensino médio. Quando eu denunciei o que estava acontecendo, eles me diziam: o Brasil é aqui, é isso o que a presidente Park Geun-Hye vem fazendo. Não é mera coincidência, há uma profunda identidade neoliberal.
A quem serve o governo sul-coreano?
Quem determina a política do Estado na Coréia do Sul são as grandes transnacionais Samsung e Hyundai, que conseguem forçar o governo a impor uma legislação que retira direitos, como o aumento da jornada com redução salarial e que reprime violentamente manifestações de quem se insurge contra as empresas. É terrível.
Visitaste alguma destas empresas?
Estive em um acampamento da Hyundai em que os trabalhadores se manifestavam em defesa de um dirigente sindical filiado à KCTU e que enfrenta não só uma perseguição a nível pessoal, como familiar. A empresa criou um sindicato amarelo, que é como eles chamam os sindicatos pelegos, para vender a imagem de que negocia com os trabalhadores. Uma completa mentira. Também estive no acampamento de trabalhadores da agricultura familiar em frente a um hospital onde um companheiro encontra-se internado, em coma, após ter sido atingido por um jato de canhão d’água. Além disso, participei da greve geral e da manifestação que reuniu mais de 25 mil trabalhadores na capital lutando pela jornada de 8 horas diárias, pois lá elas variam de 12 horas diárias, até mais. Depois da manifestação dos operários da construção, eu estava na lanchonete com o presidente interino da KCTU quando os advogados ligaram e disseram que ele também estava indiciado, com sentença para ser emitida por cinco anos, pelos mesmos crimes.
Alguma recordação especial?
A determinação daqueles milhares de companheiros e companheiras, que são muito solidários. Recordo também a coreografia muito especial, que imitava guindastes e lutas, de uma forma animadora. As manifestações são muito organizadas, bastante caracterizadas por uma mística em que sobressai o espírito de combate coletivo, de homens e mulheres que não se deixam intimidar, mostrando firmeza e coerência entre discurso e prática. O nível de repressão entra em contradição com um país que tem apenas 0,3% de analfabetismo, que é o terceiro do mundo em tecnologia de ponta e tem uma economia altamente desenvolvida. A luta dos trabalhadores sul-coreanos é para que tudo isso seja colocado a serviço de todos e que o governo abandone ações medievalescas contra quem busca melhorias. Não é à toa que os trabalhadores chamam a Samsung de demônio.
Quais os próximos passos da solidariedade e da luta por justiça?
A CUT vai acionar os organismos internacionais, como a comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), e fortalecer a ação da KCTU, em um processo que já está na Organização Internacional do Trabalho (OIT), denunciando o governo da Coreia do Sul. Este é o momento de estreitarmos ainda mais os nossos laços de solidariedade com a KCTU.