Nota de solidariedade da CNQ aos trabalhadores e trabalhadoras da mineração
26 de Janeiro de 2019
Minérios
Toda a solidariedade a Brumadinho e aos trabalhadores e trabalhadoras da mineração
A Vale do Rio Doce, ex-patrimônio nacional privatizada no governo Fernando Henrique Cardoso, e que teve barragem rompida em Brumadinho (MG) na sexta-feira (25/01/19) deixando ao menos 60 mortos e 200 desaparecidos – a maioria trabalhadores e trabalhadoras da própria companhia – continua sendo o exemplo notório do entreguismo de nossas riquezas naturais ao grande capital, da conivência das autoridades competentes, da cegueira seletiva da Justiça e da ambição desenfreada capitalista pelo lucro – algo que denunciamos e combatemos há anos.
O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) ocorre três anos depois do maior crime socioambiental da história do Brasil: o rompimento da barragem da Samarco (subsidiária da Vale) em Mariana (MG ), que assoreou e atingiu nada menos que 663 km de rios e córregos; 1469 hectares de vegetação , 207 das 251 edificações da cidade de Bento Rodrigues e ceifou a vida de 19 pessoas.
Os resultados financeiros da companhia, porém, seguiram um bom caminho. Em 05 de novembro de 2015, um dia após o crime de Mariana, o valor da ação da Vale era de R$ 15,67. Em pouco mais de três anos, o valor da ação cresceu quase 260%, chegando a R$ 56,15.
No terceiro trimestre de 2018 a Vale apresentou lucro de R$ 8,3 bilhões e distribuiu US$ 1,142 bilhão em dividendos. Registrou recorde de produção e venda de minério de ferro e pelotas de julho a setembro, chegando a 104,9 milhões, alta de 10,3% em relação ao mesmo período de 2017. Prova de que o lucro continua acima da vida dos trabalhadores e trabalhadoras.
Desde o crime em Mariana (MG) tramitam no Congresso Nacional ao menos quatro propostas de "flexibilização" (na linguagem dos capitalistas), mas por que não dizer "banimento do licenciamento ambiental na prática", motivado por lobbies do agronegócio e da indústria da mineração - as mesmas que ao lado da indústria de armas ajudou a financiar e eleger Jair Bolsonaro.
Dizer que a questão da Vale do Rio Doce nada tem a ver com o governo federal é uma mentira, senhor presidente. Quem desarticulou o Ibama e aparelhou o Ministério do Meio Ambiente para acelerar a exploração de minério? Quem fala em acabar com a "festa" das licenças ambientais que atrapalham as obras?
O governo Temer teve coragem de reduzir para valores irrisórios as multas aplicadas a mineradoras que cometem infrações ambientais. O golpista ainda abriu espaço para os exploradores capitalistas entrarem na RENCA (Reserva Nacional do Cobre e Associados), uma área com mais de 46 mil quilômetros quadrados onde há nióbio, ouro, ferro e que é maior que todo o território da Dinamarca, localizada nos estados do Pará e Amapá.
Sem falar na fiscalização da barragem de rejeitos minerais apenas por amostragem e acelerar a desapropriação de inúmeras comunidades para dar lugar a zonas de exploração mineral.
E Justiça brasileira? A mesma Justiça que julga e condena em prazo recorde o ex-presidente Lula para impedir que ele concorra nas eleições de 2018 – é a mesma que atua vagarosamente há três anos no processo criminal contra as empresas Samarco/BHP/Vale em Mariana (MG), sem qualquer decisão.
Enquanto o governo empenhar uma política de entreguismo de nossas riquezas naturais aos grandes capitalistas e a privatização irrestrita de nossas empresas; enquanto o Judiciário agir em prol dos grandes interesses econômicos; enquanto a vida de comunidades inteiras que vivem próximas a áreas de exploração e barragens, trabalhadores e trabalhadoras estiver em risco; continuaremos denunciando e lutando!
Que o exemplo negativo da Vale do Rio Doce nos sirva de lição para o que poderá acontecer com a Petrobras e outras empresas públicas ou mistas de água e energia que estão em vias de privatização.
Toda solidariedade aos atingidos pelo rompimento da barragem de Brumadinho e a todos os trabalhadores e trabalhadoras da mineração!
Lucineide Varjão, presidenta da CNQ-CUT e co-presidenta da IndustriALL Global Union América Latina e Caribe